IDADE MÉDIA EM TRANSFORMAÇÃO: AS CRUZADAS E AS CIDADES MEDIEVAIS (IDADE MÉDIA CENTRAL)
porProfessor João Henrique Couto Scotto•
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No séc. XI, após o apocalipse imaginado por muitos no ano 1000 e posteriormente no ano 1033 não ter se confirmado, Igreja colocaria em prática uma série de reformas institucionais, fortalecendo o seu poder em relação aos reinos cristãos na Europa Ocidental. A Igreja era dividida desta forma: suas terras eram divididas em províncias e dioceses, cuja liderança administrativa era a de um arcebispo, patriarca ou bispo. Nas comunidades rurais das dioceses havia as ações dos padre e dos diáconos. Em Roma havia o patriarca da Igreja (desde o séc. V chamado de Papa). O papa ficava no palácio de Latrão (atual Vaticano) e era considerado o sucessor de São Pedro (a quem Cristo confiou a edificação da Igreja na Terra). Apesar de ser uma forte instituição religiosa, a Igreja passava por uma grave crise moral no séc. X. Em resposta nós temos a criação do Mosteiro em Cluny, seus monges eram extremamente humildes e devotos, faziam questão de lavar os pés dos fiéis que ali chegavam e sempre que podiam ajudavam os necessitados. A partir de então nós temos outros monastérios (beneditinos) espalhando-se pela Europa. Da parte do papado, algumas reformas ocorrem na instituição, como as reformas do papa Nicolau II que fortaleceu o Celibato entre os padres, proibiu reis e senhores feudais de nomearem bispos e passou a fundamentar a escolha do papa através de votação entre os cardeais - anteriormente eram os imperadores que intervinham nesta escolha. Em 1075 há mais um conjunto de reformas propostas por Gregório VII que trazia a bula papal (um documento com ordens do papa) a infabilidade papal e a excomunhão - agora se alguém desobedecesse as ordens da Igreja, poderia perder o poder de penitência, ou seja, a chance de ir para o paraíso.
Com o aumento da população europeia devido ao sucesso das novas tecnologias e técnicas de produção agrícola, há o aumento de conflitos entre a nobreza pela divisão das terras. Essa crescente violência entre os cristãos foi utilizada pelo papa Urbano II que no ano de 1095 convocou todos os cristãos a uma Cruzada religiosa para retomada de terras sagradas, como a cidade de Jerusalém. Essa Cruzada religiosa uniu inúmeros interesses, como dos comerciantes da Itália (interessados no comércio do Mediterrâneo), da própria Igreja (enfraquecida desde o Cisma de 1054), dos nobres (em busca de mais terras e riquezas) e também dos camponeses que buscavam a salvação e uma vida mais digna. Esses elementos vão fomentar uma série de oito cruzadas religiosas rumo ao oriente entre os anos de 1095 e 1270. Entre estas Cruzadas nós podemos destacar a Primeira (responsável pela Conquista da Palestina e de cidades como Jerusalém). A terceira, onde nós temos os principais reis cristãos, como Ricardo Coração de Leão, Frederico Barba Ruiva e o rei da França Felipe. Na quarta Cruzada, nós temos uma mudança de planos, quando os Venezianos decidem invadir e dominar o Império Bizantino. Os cristãos dominaram regiões da Palestina na sua primeira Cruzada, no ano 1096, cujo líder foi o cavaleiro francês Godofredo do Boullion. Após esta conquista, os cruzados estabeleceram quatro estados (Edessa, Antioquia, Trípoli e o Reino de Jerusalém). Para a defesa destes territórios da chamada Terra Santa, diversas Ordens de Cavaleiros seriam criadas, como a Ordem dos Cavaleiros Templários, Hospitalários e dos Teutoburgos, por exemplo. Com a retomada da estabilidade dos reinos islâmicos, as terras sagradas são retomadas aos poucos, com a retomada de Jerusalém em 1244 e do último reduto cristão no Acre em 1291.
O movimento das Cruzadas vai se estender a outros territórios, como na Península Ibérica, onde nós temos o processo de Reconquista da região por povos cristãos. Além disso, estas cruzadas vão afastar ainda mais as Igrejas do Ocidente e do Oriente, trazendo uma mudança em especial na doutrina cristã do Ocidente, cuja violência em nome de Deus passava a ser permitida. As cruzadas também aumentam o fluxo de comércio entre Ocidente e Oriente através do Mar Mediterrâneo, beneficiando cidades italianas como Veneza, Gênova e Florença. Aquela nobreza feudal que participou das cruzadas acaba enfraquecendo (devido as suas mortes em batalha) e o poder do rei passa a ficar cada vez maior. Com o aumento das cidades, o poder da classe burguesa também cresceria.
A Cidade Medieval
Algumas transformações na agricultura fomentaram o aumento da produção no início do segundo milênio, a rotação de culturas e o maior cultivo da terra; a utilização de ferramentas mais eficientes (como o uso do arado de Metal); a amplificação no uso de moinhos (de vento ou água) para moagem de grãos e a ampla utilização de cavalos no arado, vão ampliar a produção de alimentos causando o aumento da população europeia entre os séculos XI e XIV. Com o aumento da produção, há o aumento do comércio e consequentemente das cidades, forjadas numa nova configuração, a partir de Burgos (vilas fortificadas). Com o fortalecimento destas cidades, muitos burgueses (moradores dos burgos) vão conseguir emancipar-se dos senhores feudais através de cartas comunais, conseguindo aumentar a autonomia destes burgos nas trocas comerciais e podendo defender seus interesses através das armas se necessário.
O aumento do comércio provocado pelos burgos, vai trazer novas necessidades. Uma delas é o uso de moedas neste processo. A variedade de moedas trouxe uma nova profissão, de "comerciantes" dedicados a troca (Câmbio) dessas moedas, que ficavam expostas em bancas - daí o termo banqueiro. Com o tempo esses banqueiros vão aumentar sua especialidade, permitindo depósitos, fazendo empréstimo e transferindo pagamentos. Os juros serão fundamentais neste processo.
Nestas cidades medievais, vão se formar as famosas Corporações de Ofício (guildas na Inglaterra), ou seja, eram associações de profissionais que se reuniam para regularizar os preços dos seus produtos, ou o padrão de qualidade em conjunto. Essas corporações também serviam para organizar as procissões religiosas, a construção de capelas e de escolas. Com o tempo, estas corporações de ofício vão padronizar até mesmo a organização do trabalho, padronizando os salários e a jornada de trabalho, podendo punir aqueles que não aplicassem tais regras. O objetivo destas corporações de ofício era manter o monopólio da produção na cidade.
A religiosidade também se transforma na cidade medieval. No meio feudal, apenas os clérigos podiam exercer certos gestos e preces, desconhecidas do público comum, nas cidades as pessoas passaram a buscar mais conhecimento sobre a crença cristã. Com isso, aparecem os pregadores mendicantes, que começam a criticar a sociedade em que vivem, a prática cristã que não pregava mais os valores éticos e morais, como a humildade e caridade. A Igreja vai reformular a doutrina destes pregadores, criando as ordens mendicantes, como a dos franciscanos, dominicanos, carmelitas e agostinianos. O estilo das Igrejas também será modificado com o crescimento destas cidades. Se antes os estilo românico valorizava uma igreja de paredes grossas com poucas janelas, fortalecendo a ideia de que a Igreja era uma fortaleza de Deus, a partir do séc. XII as Igrejas passariam a ser construídas num estilo gótico, sendo as maiores construções das cidades, com grandes torres, bastante decoradas com vitrais e abóbadas bem altas.
Até o século XIII, o monopólio de ensino na Europa ocidental era da Igreja. Com as corporações de professores e estudantes em crescimento nas cidades medievais, a hegemonia cristã vai diminuir. O surgimento das universidades ocorrerão em contraponto aos poderes da sociedade medieval, principalmente o da Igreja, por isso, estas universidades passarão a ser independentes e laicas. Nestes centros universitários vão se formar muitos profissionais que exerceriam funções importantes no Estado, na Igreja e nas comunas, por exemplo.