A MESOPOTÂMIA - OS SUMÉRIOS, ACÁDIOS, O SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS CIDADES E DA ESCRITA

Na História nós temos um período longo mas que desencadeia nas primeiras regiões sedentárias da humanidade. Essas regiões que vão do Egito até a Mesopotâmia chama-se de crescente fértil, pois era próximos a rios dessa grande região que surgiram as primeiras civilizações da humanidade. Claro que no Vale do Rio Indo (atual Paquistão) e no Vale do Rio Amarelo (China) processos muito parecidos ocorreram neste mesmo tempo, porém eles são distantes da nossa cultura, tendo portanto, uma influência para o Ocidente muito menor, ou seja, é por isso que nem falamos destas regiões por aqui hehehe

Bom, vamos começar localizando esta região no planeta, essa tal de Mesopotâmia (nome dado por um grego) cujo significado é Meso = entre + Potamis = rio, ou seja, essa região fica entre os rios Tigre e Eufrates, onde hoje é o atual Iraque. Estes rios permitiram o surgimento da Agricultura, mas ao contrário de outro famoso rio (Nilo) ele era mais complexo quanto aos seus ciclos férteis, por isso lugares vão aparecer e sumir sem deixar muitos rastros. Mas foi num ambiente por vezes tão hostil a agricultura que nós vamos perceber os primeiros feitos da civilização.

 

Eridu e as primeiras cidades 

Numa região pantanosa e alagadiça do sul da Mesopotâmia, aos arredores do lago Apsu, um povo conhecido como sumério, viria do planalto do Irã e cultuaria seus deuses construindo um templo ao redor do lago Apsu. Após o templo uma aldeia foi surgindo aos arredores, diques foram construídos para possibilitarem o plantio de cereais. O nome desse lugar era Eridu, um nome inspirado no deus Enkil, responsável por trazer a civilização para a humanidade. Essa história contada pelos sumérios ocorreu há 4 mil anos a.C.

Uruk, a primeira cidade

Talvez inspirados em Eridu, os sumérios tenham fundado suas primeiras cidades no sul da Mesopotâmia entre 4 e 3 mil anos a.C. Uruk foi uma destas primeiras cidades. Os rios Tigre e Eufrates tinham um período de cheias irregular, obrigando seus habitantes a construir canais e diques para levar água para suas plantações, num modo de produção chamado de asiático. O cultivo de cereais como milho, soja e cevada eram essenciais, porém este último era o favorito na produção de pão e cerveja. Pessoal, a cerveja era uma bebida importantíssima naquele tempo pois sua fermentação garantia a filtragem da água impedindo doenças mortais como disenteria e cólera. A cidade foi crescendo a partir de uma agricultura e principalmente com o comércio entre Uruk e outras localidades. Ao construir postos avançados para estas trocas comerciais, os urukianos fomentaram o surgimento de outras cidades sumérias, como Nippur, Ur, Lagash e Kish (esta última era a principal rival de Uruk e alguns dizem que surgiu até mesmo antes da mesma).

O nome de Uruk que hoje inspira o país onde a Mesopotâmia se localiza, o Iraque, era conhecida pelos Sumérios de Unug, nome dado a partir da importante deusa Inana. Galera, a cidade de Uruk nasceu ao redor de um templo em culto a deusa Inana, foi assim que surgiram as primeiras cidades. No início do Sedentarismo, as doenças e por muitas vezes as crises de fome (além dos conflitos) tornava a taxa de mortalidade altíssima e para evitar a queda da população, a taxa de natalidade deveria ser mais alta ainda, por isso, a reprodução era muito importante, ainda mais que metade dos nascidos não chegariam a adolescência! Aí a importância de uma deusa chamada Inana, que desde a pré-história era conhecida como a deusa virgem, mãe e prostituta (é estranho mesmo). Ahhh ela era importantíssima nesse cenário calamitoso, onde a libido era fundamental, então a compulsão pela copulação (quem não entendeu que fique sem entender) eram essenciais. Por isso, Uruk (Unug) tem seu nome originado de sua deusa Inana. Aliás, diz a mitologia suméria que ao seduzir Enkil, Inana roubaria grande parte do seu Me (energia vital) levando o mesmo para Uruk. O que o mito quer dizer??Ahhh é uma simbologia que Uruk havia se inspirado e também superado o povoado de Eridu, tornando-se ela a primeira cidade da Mesopotâmia.


As Invenções Sumérias

Os Sumérios eram inovadores em diversas áreas, na arquitetura os zigurates destoavam das outras construções, os seus diques e barragens favoreciam sua produção agrícola e controlavam um pouco a fúria dos rios Tigre e Eufrates, assim como a roda, inventada em diversas partes do mundo em épocas diferentes, e que claro, os sumérios não deixariam passar em branco, inventando uma roda maciça amarrada a um eixo. E foi este povo, que se alimentava basicamente de cereais e cerveja, na maioria das vezes provenientes da cevada e do trigo, que a segunda maior invenção da humanidade surgiria. Era a vez da escrita.

Ilustração de uma roda suméria

 

Bom, a escrita surge de uma necessidade de registro, isso é fato! Mas registrar o quê?? Ahh, as trocas comerciais, lembrando que naquele tempo não havia sido inventada a moeda, mas o comércio já era importante, pois a troca de produtos amenizava a crise agrícola em determinada cidade e abastecia as cidades de produtos artesanais, o artesanato era muito importante nesse processo civilizatório, pois ele fomenta algo particularmente nosso, a capacidade de criar. Não sabemos como ela surgiu, se foi de um processo revolucionário onde alguém teve um estalo e desenvolveu um conjunto de sinais para marcar suas trocas ou se foi um processo bem longo, que começava por marcar as trocas com pedrinhas, depois desenhar e marcar com riscos esse processo até chegar a marcação em placas de argila.O legal é podermos acompanhar esse processo de desenvolvimento da escrita suméria, que começara num período entre 3500-3200 a.C. de forma pictográfica (com representações em desenho) até chegar numa escrita cuneiforme como a maioria conhece, ou seja uma escrita simbólica, feita através de cunhas em placas de argila, um processo de transformação longo que ultrapassa os mil anos. Lembrando que num primeiro momento esta escrita representa apenas lembretes, ou seja, são marcações pessoais, sem uma simbologia única, cada um escrevia do seu modo, mas isso já era algo único encontrado na civilização humana.

A escrita cuneiforme vai se transformando, assim como a sua finalidade também se modifica. Se por volta de 3mil a.C. ela tinha uma serventia exclusivamente de registro comercial, ao longo de tempo ela é incorporada pelos sacerdotes, ganhando uma finalidade religiosa e também pelos governantes, que mantém sua burocracia centrada no intenso registro nas plaquetas de argila. Apesar do domínio sumério ter seu fim por volta de 2mil a.C. sua escrita vai permanecer, principalmente no sacerdócio e como comunicação erudita. O sumério some como língua, mas permanece como escrita tradicional até o fim da História da Mesopotâmia com o domínio dos persas em 539 a.C. Resumindo, o sumério para a Mesopotâmia é o Latim para os medievalistas.

 


As Cidades-Estado (3000 - 2300 a.C.)

As cidades apareceram em torno de templos sagrados, seus nomes se remetem aos deuses, e o sacerdócio é claramente a maior posição social de uma cidade mesopotâmica no primeiro milênio de sua existência. Então, todas as decisões tomadas na cidade passava claramente pela mão do sacerdócio. A partir daí nós observamos diversos conflitos entre as cidades e os povos que habitavam regiões próximas ou entre as próprias cidades sumérias. Aliás, registros Cuneiformes mostram diversos conflitos entre Uruk, Nippur, Ur, Lagash e entre outras cidades. Ao defender-se de seus inimigos e necessitar expandir sua influência e território, essas cidades-estado sumérias que já estavam estratificadas (divididas em classes) se veem com a necessidade de fortalecer o líder local, dando um vasto poder militar para ele, muito semelhante aos reis, porém suas decisões eram aprovadas pelo sacerdócio ou por um conselho de anciãos. 
Após a grande inundação do mundo (segundo a mitologia suméria) as cidades foram se reorganizando em Kish obteve um destaque especial. Invadidos por povos das montanhas, os mais poderosos da cidade (lugalenes) Lug - grande Lenes - homens, organizaram seus homens e fizeram expedições contra esses povos. Estava nascendo um novo tipo de liderança, o Lugal (em alguns livros Patesi) um líder administrativo e militar cujo poder era concedido pelos deuses. Apesar de Kish ter se voltado para a defesa num primeiro momento, é possível que ela tenha mantido uma certa hegemonia na região, influenciando as cidades sumérias do sul, estas que adotaram o mesmo título e revogaram essa hegemonia de Kish através de inúmeros conflitos entre estas. Agora a gente percebe uma busca de autonomia destas cidades sumérias através de uma liderança administrativa e militar (Lugal), era o surgimento de cidades-estado, ou seja, cidades autônomas chefiadas por um governante local.
A posição do Lugal perante a sociedade suméria é uma mostra do quanto a civilização naquelas cidades estava se desenvolvendo, o problema disso era a diferença social entre nobres (privilegiados) e plebeus que ocorria nesses lugares onde a ascensão social era quase impossível. Antes que eu esqueça, uma das únicas formas de ascender na sociedade suméria e mesopotâmica em geral, seria tornar-se um escriba, o que abriria a possibilidade de trabalho em cargos do governo.
 

O Império Acadiano 2300-2200 a.C.

As cidades sumérias eram por volta de 35 durante essa época. E principalmente nas cidades mais ao norte, percebe-se uma intensa participação de um povo semita nessas sociedades, havendo literalmente uma sociedade bilíngue nessa região. Por volta de 2300 a.C. o Lugal Zagesi era líder de Kish, Lagash, Ur e Uruk, quando de repente, a ascensão de um Semita (que depois se autodenominou Sargão) acabou derrotando as forças do Lugal e dominando uma vasta região da Mesopotâmia até as margens do rio Jordão. Surgia nesse tempo o primeiro Império Multicultural da humanidade.
Sargão, que na língua semita significa rei legítimo - foi o primeiro a dominar uma vasta região que abrangia povos sumérios e semitas na Mesopotâmia. A partir daí nós percebemos uma troca cultural entre esses povos, com deuses sendo substituídos, como Inana que seria integrada a deusa Ishtar. Mas havia um problema sumério a ser resolvido. A Religião tinha um papel fundamental na cultura suméria, como eram os deuses que "escolhiam" seu líder, o sacerdócio era um classe equivalente em poder. Para suprimir esse poder sacerdotal e diminuir o papel da religião no Estado, Sargão funda uma cidade chamada Acad e torna esta a capital do seu império. A religião não desaparece, porém, percebemos a partir de Acad um governo centrado mais no papel do homem e não mais em função dos deuses.
Os agora acadianos não substituíram a cultura suméria, mas a absorveram. Podemos perceber uma mudança no nome de alguns deuses, a implementação da língua semita na escrita cuneiforme, os templos continuariam a ser construídos, entre outros elementos sumérios que irão permanecer presentes no cotidiano da mesopotâmia até o domínio desta região pelos persas.
 

 

O último suspiro sumério (2100 - 2000 a.C.)

Por volta de 2200 a.C. um período de seca assola diversas regiões da Mesopotâmia e seus arredores, povos seminômades migram para dentro do Império acádio e começam a destruir suas estruturas recém fundamentadas. Gutis, amoritas entre outros começam a entrar no império, tributos deixam de ser arrecadados e principalmente através da invasão dos Gutis o império acaba e nós temos um fragmentação do poder na região. Aos poucos o sistema de governo sumério baseado no poder sacerdotal retorna, em Lagash nós temos a primeira manifestação de um chefe local, que longe de ter a pretensão de ser um Lugal (um soberano poderoso) se manifesta como Ensil (governador).
E assim os sumérios vão se restabelecendo, até que por volta de 2100 a.C. um líder sumério chamado Utu-Hegal começa a expulsar os gutis do sul da Mesopotâmia e reconstrói a cidade de Ur sob a terceira dinastia. Os sumérios voltariam como dirigistas do seu Estado, a língua retornaria a ser oficial, a relação com os deuses se fortaleceria, mas conquistas acádias permaneceriam na astrologia, por exemplo (lembrando que a astrologia era muito importante para o controle da agricultura pelos sumérios, constelações como de Leão e Capricórnio foram criadas por eles) assim como o acádio que continuaria a ser falado nas ruas.
O domínio de Ur no sul da Mesopotâmia se estabelece, tributos a outras cidades são exigidos e assim nós percebemos um novo governo sumério dominante na região. Durante este período os sumérios nos deixaram a maior quantidade de tabuletas escritas, mesmo que na maioria das vezes seus escritos fossem meramente burocráticos. Entre eles os primeiro código legal da região, o código de Ur-Namu, haviam leis que abrangiam assuntos civis e penais neste período sumério. Ao contrário do futuro código de Hamurábi, esse primeiro código previa muitas penas através do pagamento em prata.
Também é nesse período que nós percebemos um novo modelo de Templo religioso que irá marcar a arquitetura mesopotâmica, eram os Zigurates. Estes templos foram planejados para alcançarem os céus, sendo um lugar onde o humano e o divino se tocassem. Os Zigurates podem não ter sido tão grandes e duradouros como as pirâmides, mas sua beleza em nenhum momento ficaria para trás.
O último rei de Ur foi Ibbi-Sin, que já havia tido um enfraquecimento sucessório, perdendo poder sobre tribos ao redor, diminuindo a arrecadação de tributos. Quando na cidade de Elam um novo soberano tomou o poder e deixou de reconhecer o poder de Ur, invadindo e cercando a cidade, o poder sumério chegava ao seu fim. O Lugal Ibbi-Sin foi capturado por Elam e a hegemonia de Ur desapareceria. Agora as portas estavam abertas para a ascensão de outros povos, como os amorreus ou amoritas, que há tempos viviam entre os sumérios...

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