POVOS DA MESOPOTÂMIA - AMORITAS, ASSÍRIOS E CALDEUS


Os Sumérios foram os primeiros a se estabelecerem na Mesopotâmia, isso todos nós já sabemos, porém, seu domínio que começa por volta de 5-4 mil a.C. num conjunto de cidades-estados que disputam muito entre si pela hegemonia da região, sendo Uruk, Nippur, Ur e Lagash as mais famosas entre elas. No meio desta formação de cidades-estados há uma consolidação do chamado "big man" ou seja, o grande homem, um chefe tribal que com a formação das cidades ganha um status maior, sendo um líder militar, ainda que na Suméria não haja de forma clara uma resposta se o seu poder se estenderia também ao sacerdócio. Esse líder cujo título era Lugal (em alguns livros também é chamado de Patesi) não pode ser traduzido como um rei, pois não era um posto divino e com total autoridade, suas decisões sempre passavam por um conselho de anciãos. O Lugal era na maioria das vezes o "cara" mais poderoso da cidade. Aliás, as cidades evoluem no sentido defensivo, percebe-se agora muros de mais de 3mts e uma provável classe militar dotada de armas de bronze. Antigamente a maça era o instrumento preferido de uso no combate militar.

Os Amoritas (1900 a.C. - 1600 a.C.)

A Babilônia tem origem do Acádio, Bab-Ilu, o portal de Deus. É uma cidade famosa ma Bíblia devido ao relato babilônico dos judeus. Esta era da antiga Babilônia, começa com a expansão do rei amorita (amorreu) Hamurabi. O povo amorita já havia dominado a cidade de Mari em 1860 a.C. e Hamurabi consolida essa dominação invadindo as cidades sumérias ao sul. A partir daí nós temos a implementação de um famoso código de leis, cujos 280 artigos foram encontrados gravados num diorito negro na cidade de Elam - a leste da Mesopotâmia. Este código de leis cultuam o princípio da Lei de Talião, também conhecida como "olho por olho, dente por dente".
Exemplos:
  • Se alguém arranca o olho de outro, seu olho será arrancado. 
  • Se quebrar um osso de outro homem, seu osso deverá ser quebrado.
  • Se um construtor constrói uma casa para alguém e não o faz corretamente, e se a casa que ele construiu cai e mata seu proprietário, esse construtor deverá ser morto. 

Porém, muitos desses juízos até hoje parecem justos e sensatos, como podemos observar;

  • Se um homem quiser separar-se de uma mulher que lhe deu filhos, ou da esposa que lhe deu filhos, deverá devolver a essa mulher seu dote e lhe dar parte da renda do campo, da horta e de seus bens, para que ela possa criar os filhos. Se ela criou seus filhos, deverá ser-lhe dada uma parte de tudo o que for concedido aos filhos, igual à parte de um filho. Ela poderá casar-se com o homem de seu coração.
  • Se uma mulher discute com o marido e diz: "Não és compatível comigo", deverão ser apresentadas as razões do seu preconceito. Se ela é inocente e não há defeitos de sua parte, mas o marido se ausenta e a negligencia, essa mulher não está em culpa, e deverá tomar seu dote e voltar para a casa do seu pai.

 

Esse código de Hamurabi era um código de vingança, diferente do código de leis sumério. Isso acontece devido as diferenças sociais existentes na época de domínio de cada povo. Enquanto o código sumério era baseado na multa, e isso já era o suficiente, percebemos uma coesão social, no qual todos tinham os mesmos valores e crenças, e os deuses (acreditavam eles) é que fariam o juízo final. Já os babilônios (amoritas) enfrentavam uma variedade étnica muito maior, com modos de vida, línguas e crenças diversas. Deste modo, um código de leis mais "violento" ganharia espaço.

 

As leis de Hamurabi dividiam a sociedade em três classes, o awilum (homem livre) e nobre, o mushkenum era a plebe e o Wardum era o escravo. As leis de Talião não se aplicavam de maneira igualitária entre membros de classes sociais diferentes, por exemplo, se um escravo furasse o olho de um nobre, esse escravo seria morto, caso contrário, a multa seria em valor. 

O escriba era uma das únicas formas de ascensão social neste período. As escolas para escribas eram baseadas na leitura e escrita de textos sumérios e babilônios. A matemática era rústica, o procedimento para se encontrar a solução de um problema matemático era detalhado, porém nunca era explicado e tampouco reduzido a um princípio. O que nos resta da matemática babilônica são os múltiplos de 60 existentes até hoje na nossa contagem do tempo (ex: 1min = 60 seg). Provavelmente as aulas eram ministradas em ambientes domésticos, não há vestígios de grandes escolas na Babilônia.

Não restaram muitos vestígios desta primeira Babilônia, pois estima-se que grande parte desta cidade tenha sido inundada. O que podemos dizer é que após o reinado de Hamurabi, outros cinco reis governaram a Babilônia durante a primeira dinastia. As invasões de povos do norte como os hurritas e cassitas enfraqueceram esses governos e esvaziavam seus domínios, como as cidades do sul da Mesopotâmia (Uruk, Ur, Nippur...) nesses lugares houve um processo de ruralização em busca de maior segurança. A invasão do povo Hitita selaria o fim do Império Babilônico.

Os Assírios (1800-612 a.C.)

Os assírios migraram para o norte da Mesopotâmia originados da mesma região dos Acádios (no planalto do atual Irã) seu idioma era um dialeto do acádio (o povo que formou junto aos sumérios, o primeiro Império da Mesopotâmia). Eles estabeleceram-se numa região montanhosa da região por volta de 2 mil a.C., onde a irrigação (modo de produção asiático) e o coletivismo para a agricultura não era visto como necessário. O comércio, porém, abriria o mundo para os assírios. Duas cidades assírias vão se destacar, Nínive e Assur - esta última inspirada no deus da nação de mesmo nome. Num primeiro momento percebe-se grande vulnerabilidade dessas cidades a ataques estrangeiros, como dos povos Cassitas, Hititas e Hurritas (você acabou de ver o estrago que eles fizeram com a Babilônia né).
As inúmeras batalhas contra esses povos militarizaram o povo assírio, que cooptaram dos Hititas principalmente, novas tecnologias, como as armas de ferro e as bigas no seu sistema de batalha. Com o colapso dos Hititas por volta de 1200 a.C. os assírios poderão ascender como grande potência e se tornar um Império. Percebemos o poder assírio numa troca de mensagens do seu rei com o faraó Akenathon, onde o rei assírio se compara em grandeza (e exige tal reconhecimento) do faraó do maior Império até então. 
 
 

 
A partir daí nós temos a tomada da Babilônia pelos assírios (numa disputa que começara em 1600 a.C. e perduraria por séculos) e uma fama de povo violento e implacável ganharia força. Ao falar dos assírios muitos lembram das mutilações e assassinatos que os mesmos provocavam aos derrotados ou povos rebeldes. É claro que existiam sim e talvez na proporção imaginada por você, porém, a maioria ,dos povos antigos daquela região aplicavam violência similar aos povos conquistados. Em relação as mulheres a violência mais comum era relacionada as relações conjugais. Nos códigos de leis assírios, percebe-se penas que previam mutilações e morte a mulheres em casos de violência contra o homem e relações extraconjugais. 
Ao mesmo tempo que os assírios começam a expandir o seu Império, uma grande onda migratória começa a invadir os seus domínios. Entre esses povos migratórios, os arameus eram maioria. Uma grande seca afligia o povo arameu e outros povos por volta de 1200-1100 a.C. intensificando a migração para os domínios assírios. A partir daí observamos uma intenção relação entre arameus e assírios, uma relação de amor e ódio (se é possível falar isso hehehe) onde a imposição cultural dos assírios tornara-se muito mais difícil do que a imposição militar. Ah, não vamos esquecer que o poderio militar dos assírios ficava cada vez mais forte. Entre os anos 1000 e 900 a.c. (auge expansionista assírio) nós coincidimos com o ápice do povo hebreu e o reino de Israel e Judá, sendo que muitos reis assírios são citados na Bíblia. 
A máxima dos assírios era "um reino, um povo". Mas o que isso quer dizer?? Era a busca dos assírios em impor-se culturalmente, unificando o povo a um só sob o governo de um só rei. Isso até deu certo, haja visto que os hebreus do reino de Israel desaparecem dentro do Império Assírio após serem conquistados, fruto de que a política de cooptação dos assírios dava certo. Havia pontos positivos como uma tributação igualitária assim como o recrutamento militar a esses povos conquistados. Mas é claro que havia pontos negativos, migrações e despejos forçados.
Mesmo assim a cultura assíria não consegue manter-se intacta com o contato com outros povos. A troca cultural com os arameus foi mudando profundamente a cultura assíria, sendo que os falantes do aramaico superaram os falantes do assírio antigo. A tradicional escrita cuneiforme começaria a perder força e ser superada por uma escrita alfabética mais simples, baseada no aramaico. O último grande rei assírio (Assurbinapal que governara entre 668-627 a.C.) construiu uma grande biblioteca buscando preservar as tabuletas cuneiformes mais variadas possíveis. Era um prelúdio, pois quando percebemos uma preocupação em preservar e evocar o passado, é porque no presente, há uma distância muito grande com os feitos do passado. Assim, podemos dizer que Assurbinapal premonizava o fim do domínio assírio.
 

O Retorno da Babilônia - Os caldeus (612 a.C. - 539 a.C.) 

O alfabeto aramaico e a mudança cultural que transformara o Império Assírio, talvez tenha sido o grande fator que permitira o seu fim. A relação dos assírios com a Babilônia nunca foi tranquila. Os assírios tentaram controlar a Babilônia de todas as maneiras possíveis, uma hora colocavam um rei assírios, noutra um rei local que serviria como um rei cliente da Assíria e até mesmo criaram monarquias duplas! Mas nada disso evitou uma paz duradoura, volta e meia a Babilônia se revoltava e sofria a famosa repressão violente assíria. 
Da mesma forma que os assírios conviveram com a migração dos arameus para suas terras, na Babilônia um povo de mesma origem dos arameus (os caldeus) migrariam para lá. A medida que os caldeus se fortaleciam sua posição na Babilônia, crescia a ideia de livrar a Babilônia dos assírios e elevar a cidade a grandeza que ela tinha durante o período Amorita. Em 689 a.C. os assírios impuseram mais uma derrota a Babilônia e a destruíram completamente (talvez não tenha sido tanto assim). Com Sargão II (rei da Assíria) o rei Marduk Apla-Iddina da Babilônia é expulso da cidade, refugiando-se na cidade de Elam, rival assíria a leste da Mesopotâmia. Ao perceber a ameaça elamita, o rei Assurbinapal faria uma grande campanha militar contra cidade (com direito a famosa repressão assíria) e destruiria Elam e o domínio elamita na região. E isso foi positivo para os assírios? A resposta é curta e grossa, NÃO! A derrota de Elam abriu espaço para que povos mais a leste da região pudessem entrar na Mesopotâmia, um desses povos viria da região da Média (os medas ou medos) e seus povos vizinhos da Pérsia (os persas) que eram dominados pelos medos pegariam "carona". 
Assurbinapal morreu em 627 a.C. e em 612 a.C. os caldeus da Babilônia conseguiram o apoio dos Medas e derrotaram o império assírio. Os Medas e os caldeus dividem as posses do Império Assírio, os medas ficam com a região norte da Anatólia e os caldeus com a Mesopotâmia. O rei da Babilônia Nabu-Apla-Usur (Nabuconosor na Bíblia) domina a região criando um império conhecido por nós como Neobabilônico.
Destruída pelos assírios em 689 a.C., a Babilônia renasceria através de grandes projetos do rei Nabucodonosor que espalhariam-se também por outros lugares da Mesopotâmia. A partir das fundações antigas, os reis caldeus construíram diversas muralhas, como as muralhas defensivas de Imugur-Enlil, mas as construções não se resumiram a questões militares, grandes templos foram construídos, como o de Ishtar na Acádia. Essas construções buscavam reconstruir a cultura acádio-suméria mesmo que simbolicamente. 
Ao chegar nessa Babilônia você encontraria uma grande muralha dupla e grandes portões, por um desses portões você chegaria a uma grande distrito comercial e enxergaria talvez o Etemenank, a casa que é o alicerce entre o céu e a terra, estou falando de um grande Zigurate que inspirara a história sobre a Torre de Babel. Infelizmente a arqueologia não encontrou sequer as bases desta zigurate.
 
 

 
 Em 539 a.C. o destino da Babilônia e da Mesopotâmia mudaria para sempre. Os Medas não dominavam mais os persas, pelo contrário, agora eram os persas que dominavam os medas através do rei Ciro o grande. Essa inversão de povo dominante mudaria o destino da Babilônia. Ciro, o rei dos Persas iniciava uma grande campanha de conquista, e a Babilônia estava no caminho. Pegos de surpresa, os babilônios não puderam resistir a conquista persa. E assim terminaria a independência da Babilônia, um período que durou pouco tempo (entre 612-539 a.C.) e que tivera como grande rei Nabucodonosor que governou por 43 anos. A Babilônia não voltaria mais a ser capital de um império e sua cultura mesopotâmica de origem suméria, começaria a desaparecer aos poucos...
 

Assista ao vídeo 

 

Postar um comentário

E aí? Comente sobre o assunto!

Postagem Anterior Próxima Postagem