1808 - A CHEGADA DA FAMÍLIA REAL AO BRASIL

 

Janeiro de 1808, cidade de Salvador. Apavorado, o governante local descobrira que a família Real esperava em seus navios na costa para desembarcar. Um grande festejo de última hora é realizado, a família real desembarca, a princesa Carlota e outros membros da realeza reclamam da quantidade de negros e índios e da sujeira de Salvador, a primeira capital do Brasil, habitada por 43 mil pessoas. Naquele tempo, a segunda maior cidade da colônia Brasil. A intenção dos portugueses não era ficar, apenas estavam a espera naquele porto pois ele era mais seguro que o do Rio de Janeiro em relação a um possível ataque. Sendo assim, após decretar a abertura dos portos acabando com o exclusivismo comercial, o regente dom João embarca para o Rio de Janeiro, a nova capital do Império Ultramarino Português, onde chegaria em março daquele ano.

A Vinda para o Brasil

Na Europa nós vivíamos uma guerra continental entre Napoleão (imperador da França) e a coalizão - um conjunto de nações como a Prússia, Rússia, Áustria e Inglaterra. Deste a Batalha de Austerlitz em 1805, Napoleão demonstrava um poder terrestre avassalador, vencendo constantemente estes impérios. Mas ao planejar invadir a Inglaterra (que fica numa ilha) Napoleão teve sua frota destruída na Batalha de Trafalgar. Aliás, se você se interessou por estas batalhas, eu falo e jogo cada uma delas no HMAIS GAMES, então clica no link hehehe...
A Inglaterra tentava vencer Napoleão pela economia, bloqueando a entrada dos produtos das colônias da América para a França. Napoleão tenta dar o troco, bloqueando os portos da Europa para a Inglaterra. Tá, mas e Portugal? O agora frágil e atrasado reino português, estava dependente economicamente da Inglaterra e não poderia obedecer a este bloqueio continental imposto por Napoleão. Então, aliada a Inglaterra, a família real decidiu embarcar para continuar seu governo na maior e mais rica de suas colônias, o Brasil. Auxiliados por navios ingleses, uma grande frota com entre 10-15 mil portugueses embarca para o Brasil em 27 de Novembro de 1807, deixando uma população aflita em Portugal e uma força de resistência de ingleses e portugueses, insuficientes para pararem o avanço do general Junot da França.

O Brasil daquele tempo

O Brasil de 1808 possuía cerca de 3,7 milhões de habitantes, segundo censo da Igreja, que não contou os nativos nem as crianças. A colônia era composta na maioria de escravos e de pobres, e a elite era agrária, com grandes produtores no Nordeste, Sudeste e Sul. Lembro que ainda existia a extração de ouro em Minas Gerais, mas desde 1790 essa produção do ouro diminuía de forma significativa. Um terço (no mínimo) desta população era de escravos, divididos entre crioulos (nascidos na terra) e africanos, originários de inúmeros lugares, a sua diversidade cultural acabava enriquecendo ainda mais a cultura brasileira. Grande parte do território colonizado ficava no Nordeste, Sudeste e Sul, as demais regiões eram dominadas pelos povos indígenas, possuindo algumas cidadelas e fortes isolados. 
Portugal sempre manteve um certo isolamento regional na sua colônia, proibindo a construção de estradas para comunicação e transporte entre as regiões, evitando uma unificação conforme havia ocorrido com as colônias inglesas na América. 
Resumindo, o Brasil tinha uma economia agrária, cuja base era a escravidão e podia vender e comprar apenas dos portugueses, num modelo conhecido como exclusivismo comercial.
 

As Mudanças

Aqui eu começo com uma frase minha (que não tem nada de genial) - a chegada da Família Real no Brasil mudou muita coisa para poucos, mas pouca coisa para muitos! 
A primeira medida tomada pelos portugueses foi a abertura dos portos as nações amigas (a Inglaterra). Isso beneficiou os comerciantes ingleses, mas também os produtores brasileiros - minoria da população. Ao chegar no Brasil o Reino Português foi estruturando um governo aos poucos. Foram surgindo os ministérios, um Banco do Brasil, Biblioteca, o Teatro, a impressão de Jornais, escolas militares, faculdade de medicina e direito. Fizeram obras públicas no Rio de Janeiro, onde até o Jardim Botânico surge. Mudanças culturais também ocorreram. A chegada de uma missão francesa com diversos artistas e pintores como Debret (que registrou grandes momentos da nossa história) contribuíram para nossa transformação cultural. Algumas mulheres passaram a poder frequentar as boutiques e lojas de tecidos que viriam da Europa, puderam sair sem a companhia dos maridos e sem cobrir o rosto (naquele tempo a mulher cobria o rosto, muito parecido com governos muçulmanos mais conservadores), tudo isso, graças a Carlota Joaquina, esposa de dom João, cavalgava pelas ruas da cidade demonstrando ponderação e humilhando muita gente no caminho. O Rio de Janeiro passava a ser o centro de distribuição destas mudanças para outros lugares do Brasil. Mudanças culturais e econômicas.

Um novo reino, um novo rei

Em 1811, portugueses e ingleses, liderados pelo comandante Wellington (esse carinha que derrota Napoleão em Waterloo) conseguem expurgar os franceses de Portugal. O príncipe regente d.João já poderia voltar a sua metrópole, mas prefere deixar a mesma sob protetorado inglês. Em 1815 Napoleão sofre a sua última derrota em Waterloo e é enviado para uma ilha isolada no Atlântico. Uma conferência de paz é realizada em Viena, onde Portugal deveria ser representado. Talleyrand, que foi um consultor de Napoleão e da monarquia francesa, era considerado um dos grandes intelectuais políticos do seu tempo, este senhor recomenda que Portugal mantenha sua sede no Brasil neste momento a fim de mostrar sua ideia de vencedor no conflito. Deste modo, dom João decreta em 1815 o Reino Unido Brasil Portugal e Algarve. O Brasil não era mais uma colônia, ganhava um status igual ao de Portugal, ou melhor, pois a capital e o rei ficariam por aqui. Peraí, dom João não era rei ainda!! Desde 1792, sua mãe, Dona Maria a Piedosa, seria afastada da coroa por problemas mentais (havia perdido marido e filho mais velho). Aliás, a rainha Maria no Brasil seria conhecida como Maria, a Louca. Ela era a rainha e imperatriz, mas seu filho (o que restou) dom João era o regente do reino português ou Império Ultramarino, como quiser. Em 1816, dona Maria morre, e assim os portugueses convocam suas cortes para aclamar o novo rei, agora dom João VI. A disputa pelo local da aclamação do rei entre Portugal e Brasil atrasa um pouco o processo, que ocorreria somente em 1818. Ah, o rei português não era coroado, era apenas aclamado. A coroação deveria ser feita pelo rei Dom Sebastião, sumido em 1580. Para os portugueses, a coroa havia sido levado junto com ele, e o mesmo deveria retornar dos céus para coroar o próximo rei. É mais ou menos isso hahaha
 

 Para muitos, pouco muda...

O Brasil tinha uma capital, um rei e uma grande estrutura, que facilitaria a sua independência, como veremos a seguir. Porém, muitas coisas permaneceram iguais. A escravidão é o primeiro assunto. O tráfico de escravos aumentou com a chegada da família real, africanos desembarcavam como nunca nos portos brasileiros. Vendidos seminus em mercados a céu aberto, onde eram castigados e maltratados a vista de todos, a escravidão continuava fortemente arraigada na cultura brasileira. Assim como alguns adoram mostrar seus carros nas ruas atualmente, naquele tempo a moda era ter escravos. No Brasil era costume sair as ruas acompanhado de escravos, quanto mais e melhor vestidos, maior o status da pessoa. Todo mundo queria ter um escravo, até mesmo o ex-escravo, a cultura escravista demoraria a desaparecer, como percebemos até hoje. Escravo de pobre passava as mazelas junto, trabalhava exaustivamente para  sustentar seu patrão e tinha uma vida precária, porém poderia a partir desta relação, ter sua liberdade ganha ou comprada. Escravos de pessoas mais ricas tinham destinos distintos. Poderiam trabalhar na lavoura, vivendo da pior forma possível, ou poderiam se tornar domésticos, com um conforto e uma carga de trabalho menor. Mas era no ganho que o escravo poderia ter um pouco mais de liberdade e talvez condições de comprar a sua. O Ganho era uma tarefa no qual o escravo venderia algo para seu proprietário (sim eles eram considerados propriedade) e desta forma poderiam andar nas ruas, conversar com outras pessoas, e talvez comprar sua liberdade. Ah, os castigos continuavam iguais, era comum andar nas ruas e encontrar escravos no pelourinho, ou andando acorrentados e com máscaras de ferro. Havia ainda uma imensa exploração sexual, alguns tinha literalmente haréns em suas propriedades. Mas também havia amor, muitos homens e mulheres mantiveram um ex-escravo como parceiro para a vida. 
 
 

 
Em relação as províncias coloniais, há com a chegada da família real, um grande sentimento de frustração e abandono, pois o governo de dom João, tinha como grande foco o Rio de Janeiro. A colônia era enorme, algumas regiões mantinham uma relação mais próxima com Portugal do que com o Rio de Janeiro, como o Pará, Maranhão e Pernambuco. A chegada da família real resultava muitas vezes, apenas ao aumento de impostos e a interferência no governo. Os pernambucanos revoltaram-se em 1817 com a imposição do governador local e iniciaram uma Revolta, que resultou numa derrota militar, mas não numa derrota ideológica, como veremos mais a frente.
Tudo mudaria com uma revolta que aconteceria lá em Portugal. Aqueles portugueses que foram abandonados em 1807, veriam-se gravemente abalados pela crise financeira e pelo abandono do seu rei.. Na cidade do Porto eclodiria uma Revolta pedindo retorno imediato do rei. Era uma revolta de cunho liberal, buscava pôr fim a monarquia absolutista de dom João VI. Em março de 1821, aos prantos, dom João retornava ao seu lugar de origem... mas o que aconteceria ao Brasil?
 

Assista a aula:


 






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