Dom Pedro I partiria para Portugal em 13 de abril de 1831, deixando seu herdeiro Pedro de Alcântara e suas duas filhas no Rio de Janeiro. Dois dias depois dom Pedro II seria Aclamado Imperador do Brasil e o forte sentimento de nacionalismo tomaria conta da capital. Ah, dom Pedro II não poderia exercer sua função de imperador, só para lembrá-los, ele tinha exatos 5 anos e 4 meses de idade.
Segundo a Constituição outorgada de 1824, dom Pedro II só poderia exercer seu cargo com 18 anos, e neste período o Brasil seria governado por uma regência. Rapidamente uma Regência Trina Provisória seria formada com membros com posições políticas opostas. Ao manter alguns membros do Primeiro Reinado em cargos do governo, essa Regência Provisória alimenta um sentimento xenófobo em relação aos portugueses. Em junho de 1831 assumia uma Regência Trina Permanente, composta de membros que "representavam" regiões distintas do país, como o Norte, Nordeste e Sudeste, mas ambos tinham uma posição política moderada. Ah, neste período nós temos uma divisão política no país divididas em três grupos distintos.
O Grande problema que a Regência Trina enfrentava era o caráter centralizador do governo, que descontentava as demais províncias trazendo instabilidade ao país. A criação da Guarda Nacional fortalecia o papel da elite regional mas também do governo central, que não seria dependente do Exército para impor um poder dominante. Ao armar e patrocinar a Guarda Nacional, o grande produtor rural ganhava um cargo de liderança, por isso este grande produtor será chamado de Coronel por um bom tempo.
Enquanto isso, dom Pedro II vivia junto com suas irmãs, numa infância marcada pelos estudos e pela vida regrada. Antigo aliado e posterior opositor de d.Pedro I, José Bonifácio de Andrada e Silva seria o responsável pela educação do Imperador do Brasil nestes primeiros anos.
No ano de 1832 em Pernambuco, o descontentamento com as políticas centrais, aliadas a um desejo de retorno de d.Pedro I, motivaria índios, escravos fugidos, posseiros e proprietários rurais, todos com o objetivo de lutar contra o governo regencial e trazer d.Pedro I de volta. Por ter como grupo majoritário pessoas pobres que moravam em cabanas, o movimento foi chamado de Cabanada e só teria fim em 1835 após uma forte repressão do governo central, liderado por Manuel de Carvalho Pais de Andrade, antigo líder do movimento da Confederação do Equador.
A Regência Trina foi combatida por restauradores e moderados, pois era vista como uma forma de governo frágil frente as necessidades do país. Desta forma em 1834 nós temos um Ato Adicional e uma regência Una seria criada, o Padre Antônio Feijó seria o único regente do Império. É neste Ato Adicional que as províncias ganhariam maior autonomia administrativa e jurídica, vista como necessária nesta época de instabilidade regional. Não adiantaria, pois Antônio Feijó não resistiria ao surgimento de diversas revoltas que vão surgir no período, deixando o cargo para seu primeiro-ministro, Araújo Lima. Durante o seu período de regência una (1837-1840) Araújo Lima vai buscar acabar com a autonomia jurídica nas províncias, vista como uma medida liberal demais.
A Revolta dos Cabanos (1835-1840)
Na Província do Grão Pará, eclodiria uma revolta extremamente violenta, marcada pelas demandas sociais das mais variadas camadas sociais. O nome é, assim como em Pernambuco, relacionado às cabanas, moradias dos negros, índios e mestiços, grupos mais pobres da região.
No Grão Pará há um sentimento negacionista em relação ao governo do Rio de Janeiro, eu tenho que lembrá-los que até 1800 a província respondia diretamente à Lisboa. O Grão-Pará não tinha o sentimento de Brasil como as demais regiões do país. Desde a implementação das colônias portugueses, o Pará era separado administrativamente do Brasil. Sua economia baseada nas drogas do Sertão e posteriormente explorada pela Companhia do Comércio, mantinha relativa indiferença da região com o restante do Brasil. A Independência em 1822 representava um poder dominante mais estranho do que o antigo (neste caso, Lisboa). O que há na região é um descontentamento generalizado com a política da Regência e uma ideia de retorno de d.Pedro I - não que ele tenha feito grande coisa para eles, mas representava um retorno à condição anterior - por isso este desejo estranho a um Imperador tão distante.
Após a tomada de Belém o movimento se divide. A Elite local preocupada com o crescimento das populações negras e indígenas no movimento e com medo de um aumento da radicalização, acaba se afastando e com isso a Revolta dos Cabanos se transforma num movimento reivindicação social, demonizado pelas elites locais e pelo governo central. Em 1836 o Governo envia seis navios para a região e o extermínio tem início. Em 1840 a revolta chega ao fim com um saldo estimado entre 30% a 40% de mortos da população local.
As Revoltas na Bahia
Desde a Conjuração Baiana em 1798, o sentimento popular contra o regime central estava só aumentando. Desde o início do século XIX, observa-se na Bahia diversas revoltas contra as elites dominantes, a maioria delas vindas de escravos. Diferente de outras regiões do Brasil, na Bahia havia uma certa afinidade étnica entre os grupos escravos vindos da África. Com um grande número de haussás vindos da Nigéria e com religião islâmica, o movimento contra escravidão ganhava cada vez mais fôlego, atemorizando a elite local.
Em 25 de Janeiro de 1835, tem início um conflito armado nas ruas de Salvador. Eram escravos e africanos libertos que enfrentaram soldados e civis por mais de três horas. A Sociedade dos Malês (como ficaram conhecidos os escravos muçulmanos) havia planejado uma série de ataques relâmpagos a quartéis, igrejas e edifícios públicos. O movimento era islâmico e portanto não atraía grande parte da sociedade de Salvador - os abadás, túnicas rituais brancas - acabaram afastando um parte da sociedade que poderia apoiar o movimento. Além disso, ao serem delatados, os rebeldes não tiveram tempo para organizar um movimento mais forte contra as forças locais. Resultado - deportações, execuções e torturas aos derrotados.
Bom, mas este não seria o único conflito na Bahia durante o período regencial. Em 1837 Antônio Feijó deixaria a Regência Una e assumiria em seu luar Araújo Lima. Como já disse, Araújo Lima iria adotar uma política que acabaria em parte com a autonomia provincial. Crescia o sentimento farroupilha em Salvador e o temor de um recrutamento militar obrigatório para lutar na Guerra dos Farrapos, acabou fortalecendo um movimento de revolta liderados por Francisco Sabino Vieira e João Carneiro da Silva Rego. Ambos reuniram seus homens e tomaram Salvador, num movimento que desligaria a Bahia do governo Regencial. O nome do movimento foi inspirado num dos Líderes, chamando-se de Sabinada. A capital baiana foi cercada em 1838 e o movimento foi derrotado pelo Império. Foram 1258 rebeldes mortos e outros 2989 presos.
A Guerra dos Farrapos (1835-1845)
O Rio Grande do Sul não era uma região economicamente e politicamente importante para o governo central. Era sim, um ponto militar estratégico, pois defendia o país das nações do Prata, neste caso a Argentina e o Uruguai. A falta de cuidado do governo central com taxação do charque estrangeiro prejudicava uma elite local gaúcha, e com isso, os mais diversos grupos adotavam um caminho político liberal, ou farroupilha como já observamos.
A Revolta começa numa noite de 19 de Setembro de 1835, quando um grupo de rebeldes patrocinados por estancieiros maçons domina Porto Alegre e expulsa o governante da Província. O grupo farroupilha procurava uma maior autonomia local e valorização do charque regional, ou seja, queriam que o imposto de importação do charque argentino e uruguaio (que eram de melhor qualidade e preço) aumentasse, favorecendo a sua produção. A resposta do Império foi a de luta armada e por isso o conflito acabou se estendendo até a proclamação de Independência da República Rio-grandense em 11 de setembro de 1836 após uma vitória do general Neto. Começa aí a Guerra dos Farrapos - já que duas nações estão em conflito. O presidente da província é Bento Gonçalves, personagem único, ele foi preso e por duas vezes retornou ao conflito de maneira espetacular. Na segunda vez que ele escapou da prisão, conheceu Giuseppe Garibaldi, herói dos farroupilhas mas também da unificação italiana anos mais tarde. Até o ano de 1839 há um certo equilíbrio militar na região, mas com o fim dos outros conflitos regionais, o Império concentra suas forças na região e vai ganhando o conflito até a chamada paz honrosa dos farroupilhas em 1845. Ao contrário das outras revoltas locais, os farroupilhas mantiveram seus postos no exército imperial, assim como todas as suas reivindicações foram aceitas (com exceção da libertação dos escravos que lutaram ao seu favor - grande parte foi executada). Ao ganharem o direito de escolherem seu governante provincial, os farroupilhas escolheram seu algoz, o então Barão de Caxias (futuro Duque de Caxias).
A Balaiada (1838-1841)
Assim como o Grão Pará, o Maranhão não era uma colônia que fazia parte do Brasil durante o período de dominação portuguesa. Aliás, até o ano de 1811 o Maranhão era uma colônia separada do Brasil, o que não trazia uma ligação e um sentimento de pertencimento do Maranhão ao Brasil independente. O descontentamento no Maranhão era o mesmo das outras províncias - muitos impostos, pouco retorno do império. Mas por lá a revolta começa de uma forma muito diferente. Manuel Francisco dos Anjos Ferreira tem duas de suas filhas violentadas pela polícia local, ele, um vendedor de balaios, forma um grupo armado e toca o terror na região.
Em 1838 um apoiador da Revolta dos Cabanos no Pará - José Egito - é preso. Seu irmão, Raimundo pede ajuda para o Balaio (Manuel, o cara revoltado) libertar seu irmão, e o mesmo aceita. Começa aí um movimento de revolta que destrói e saqueia fazendas e que vai crescendo rapidamente, até que em 1839 o movimento se tornou um governo provisório. Conforme o movimento vai se radicalizando, as elites vão se afastando. Com a morte de Balaio, o grande líder do movimento é o negro Cosme Bento, chefe de um Quilombo local. Em 1841 o governo imperial consegue derrotar o movimento e deixa um saldo de 12 mil mortos para trás.
E assim terminaria um período de guerras civis no Brasil. Calma, na próxima aula eu falo como realmente tudo acabou, já adianto que a solução foi super brasileira hehehe...