9 de Dezembro do ano de 536, tropas romanas entram em Roma. O Império reconquista sua cidade fundadora quase 60 anos após sua queda. Tá certo, isto aconteceu, mas, não foi bem assim...
Desde 395 o Império Romano foi dividido em Oriental e Ocidental, e foi justamente no Ocidente que o Império encontra o seu fim em 476. A parte Oriental vai continuar durante toda a Idade Média, levando consigo todo o legado cultural grego e romano da Antiguidade. Para não confundir as coisas, historiadores apelidaram este Império Romano de Império Bizantino, em alusão a cidade de Bizâncio, absorvida após a fundação de Constantinopla. O que havia de diferente entre este Império Romano e o existente na antiguidade? Simples, quase tudo! A começar pelo idioma, o latim romano desapareceu na porção oriental, sendo substituído pelo grego.
Voltamos então para o ano de 536, quando romanos retornam a Roma. O Imperador Justiniano buscava restaurar a dignidade romana, e com isso, iniciou uma intensa campanha de reconquista, liderada pelo general Belisário. A reconquista da porção ocidental não é completa, os povos bárbaros resistem e uma longa guerra se estende na Itália. Quando os bizantinos conseguem a região por definitivo, havia uma terra arrasada e uma longa dívida do Império com seus contribuintes. No final, a reconquista foi um imenso prejuízo.
No século VII o Império Bizantino passava a enfrentar dificuldades imensas. Primeiro perdia parte do território para os Persas, mas após uma vitória decisiva contra os mesmos, os bizantinos eram ameaçados por um fenômeno cultural e militar, os árabes e a crença islâmica chegavam com força aos territórios bizantinos. As perdas bizantinas nesse período foram intensas, locais riquíssimos foram perdidos, como a Síria, a Palestina e o Egito. A partir daí os bizantinos adotam uma política de defesa do "pouco" território que lhe restava no oriente, abandonando inclusive, os territórios reconquistados no ocidente.
O vácuo deixando pelos bizantinos no Ocidente, vai acabar aprofundando as diferenças religiosas entre a Igreja do Ocidente e do Oriente. Desprotegidos, os católicos romanos vão buscar alianças em outros reinos, como o dos francos, afastando-se das decisões do Imperador Romano, ou agora, Basileu (termo grego). Aliás, ao contrário do Ocidente, a Igreja do Oriente não aceitava o papa como uma figura de liderança religiosa e sim o próprio Imperador Romano. Com isso, nós temos uma crise entre as duas igrejas quando o Imperador Leão III proibiu o uso de imagens religiosas acusando o uso delas como prática de Idolatria. A Igreja do Ocidente não aceita e acusa o próprio imperador de Heresia (aquilo que vai contra a doutrina da igreja) começava aí a questão Iconoclasta (um primeiro rompimento entre as Igrejas do Ocidente e Oriente). Os conflitos entre cristãos de Roma e Constantinopla culminariam no Grande Cisma de 1054, quando há uma separação entre as Igrejas do Ocidente e Oriente. No Oriente, a Igreja Ortodoxa manteve os sacramentos católicos, porém os rituais não tinham uso de instrumentos musicais, as imagens de santos não eram esculpidas, o líder máximo era o Imperador seguido pelo Patriarca (líder da Igreja). Ao contrário do Ocidente, apenas os Bispos não podem se casar, por serem considerados continuadores do trabalho apostólico, logo, padres podem ser casados, desde que anteriormente a sua ordenação.
Bem-vindos ao século XV, o século final do Império Bizantino. Mas o que acontece? Simples. O Império está enfraquecido desde a 4ª Cruzada, os mongóis cederam e com isso, russos e turcos (desta vez otomanos) retomaram seu poder e prestígio. E com isso, os Otomanos iniciaram uma intensa campanha militar contra Constantinopla. Os anos iam se passando e dentro do Império, muitos sabiam que o fim estava próximo. Mas como deixar o legado grego? A partir daí nós temos dois movimentos bem interessantes, o primeiro deles é o humanismo e os pensadores que reascenderam Platão e Aristóteles, ganhando fama e prestígio no mundo Latino (na Itália). Em resposta aos humanistas, os monges cristãos (hesicastas) defendiam a prioridade da herança ortodoxa e com isso passaram a perseguir os humanistas, fazendo com que muitos deles procurassem a Itália e o catolicismo. Essa disputa interna acabou ajudando a fragmentar a difusão cultural bizantina, já que a Igreja Ortodoxa tinha migrado seu poder patriarcal para a Rússia, que se tornaria a herdeira religiosa do Império Bizantino. Em 1453 o imperador Constantino XI seria morto, as muralhas da cidade seriam derrubadas pela forte artilharia otomana (eles usariam armas de fogo para isto) e chegava ao fim (finalmente hahaha) o Império Romano, ou România (como era chamado pelos ocidentais). A cidade seria renomeada para Istambul e a basílica de Santa Sofia, Igreja mais antiga e bonita de Constantinopla, seria transformada em Mesquita.