IDADE MÉDIA: A EXPANSÃO ISLÂMICA


A Península Arábica era na Idade Média (assim como hoje) uma região desértica, onde tribos viviam nos poucos oásis existentes. Desta forma, em 610 a região tinha duas cidades importantes localizadas nestes oásis (Yatrib e Meca) sendo governado por reinos politeístas de origem semita. No deserto, clãs de beduínos viviam do transporte e comércio de mercadorias. Aliás, na região da Arábia, o comércio de especiarias através do mar Vermelho era a única chance de prosperidade. Por ser uma região comercial, a península continha diversas crenças, como judaísmo e cristianismo, sendo que, as religiões politeístas dominavam os grandes centros, como Meca. Na cidade de Meca havia o Haram - um espaço destinado a trocas comerciais onde pessoas com diversas crenças poderiam conviver. Nesta cidade e neste espaço, Maomé, um membro da tribo Coraixita (que dominava Meca) pode conviver com as mais variadas crenças. Em 610 Maomé afirmava ter recebido as últimas mensagens de Deus a partir do anjo Gabriel, sendo ele próprio o último profeta de Alá (Deus). Rapidamente Maomé ganha seguidores e os Coraixitas se veem ameaçados por esta crença. Desta forma em 622 os coraixitas tentam matar Maomé, mas ele consegue fugir de Meca e vai para Yatrib, num episódio que ficou conhecido como a Hégira (fuga) e que proporcionou o aumento de seguidores da nova religião em Yatrib (que logo após ficou conhecida como Medina, cidade de Maomé). Em Medina o Islã (Submissão ao Deus único) se fortalece e em 630 Maomé e os demais Muçulmanos (aqueles que se submetem a Deus) dominam toda a península arábica.


O Islamismo é uma religião monoteísta, baseada na recitação em árabe da mensagem que foi transmitida a Maomé (depois escrita num livro chamado Alcorão e na Suna). Basicamente os muçulmanos devem seguir cinco pilares da fé, como acreditar num único Deus, orar cinco vezes ao dia voltados à Meca, fazer caridade , obedecer ao jejum no mês do Ramadã (período em que Maomé recebeu a mensagem do anjo Gabriel) e se possível peregrinar para Meca ao menos uma vez na vida. Desta forma os governos islâmicos neste período são baseados na Teocracia, ou seja, governo e religião são inseparáveis.

Em 632 Maomé adoece e morre, naquele momento, a expansão islâmica havia atingido a cidade de Meca e praticamente toda a Arábia. Um dos preceitos do Islamismo, a Jihad, cuja interpretação é bem complexa, mas que tem como preceito o empenho em espalhar a palavra de Deus, é utilizada de forma radical por grupos extremistas até hoje. No Corão, há os dizeres " fiéis, fazei guerra aos infiéis que vivem ao vosso redor[...] Sede firmes com eles. Sabei que Alá está com os justos." Desta forma em 650 os muçulmanos já haviam dominado a península arábica, o Egito, a Palestina, a Síria e a Mesopotâmia. Também é nesta época que a unidade do clã Omíada começa a ruir. O último dos companheiros de Maomé (Uthman) morre e na busca por um herdeiro, Ali (sobrinho do profeta) se pronuncia Califa, contrariando Muawiya que havia conquistado a Síria. O assassinato de Ali provocaria um grande rompimento entre o pequeno grupo que defendia Ali e a ancestralidade como pré-requisito na chefia dos muçulmanos (a minoria Xiita) com o maior grupo que defendia a capacidade de liderança como pré-requisito para a chefia (a maioria Sunita), mantendo desta forma Muawiya no poder. O mesmo transferiria a capital de Medina para Damasco, nascendo ali o grande Califado (Império) Omíada.

A expansão Omíada parte para o Oriente com a conquista de toda a Pérsia e outras regiões como as do atual Afeganistão, no Magreb (Ocidente) eles conquistam até mesmo grande parte da Península Ibérica (atual Espanha e Portugal). Porém em 750 a dinastia Omíada de origem árabe é derrotada por uma dinastia persa (Abássida). O segundo Califa desta dinastia transfere a capital para Bagdá, cimentando o poder dos Abássidas. Os abássidas vão herdar o conhecimento cultural e científico dos Omíadas (que se inspiraram muito nos Bizantinos) mas ao contrário destes, os abássidas vão promover uma busca por outras respostas além das Hadiths (ditos do profeta). Um dos califas que mais promoveram o conhecimento no mundo islâmico foi Harun al-Rashid. Com ele foi construída a Casa da Sabedoria em Bagdá, cujo objetivo era guardar, traduzir e estudar as obras da Antiguidade (muitas delas romanas e gregas). Além disso, durante o califado de Harun al-Rashid foram compiladas as tradições orais anteriores ao islamismo e pós islamismo, como os contos que compõem a obra  As mil e uma noites.

Os abássidas se consolidaram no poder e a sua promoção do conhecimento se proliferou até mesmo para a Europa, onde a medicina, a matemática e seus pensamentos filosóficos e teológicos influenciaram o pensamento europeu. Na matemática um dos grandes exemplos são os estudos de Al-Khwarizimi que introduz a trigonometria e a álgebra. Além disso, são matemáticos muçulmanos que introduzem os algarismos indianos (chamados também de arábicos) e o conceito de número zero na Europa. Na medicina nós temos as contribuições de Ibn Sina (na Europa Avicena) e sua enciclopédia médica, o Cânon da Medicina. Enquanto na Filosofia, o europeu do Emirado de Córdova conhecido como Averróis, vai se destacar como um dos mais ilustres pensadores da Idade Média ao comentar as obras da Aristóteles. 

Os califados muçulmanos dos abássidas haviam se fragmentado e sofreriam fortes investidas cristãs aos seus territórios a partir do século XI. Um novo movimento cristão de retomada da terra prometida (Palestina) conhecido como Cruzada, havia começado e os cristãos chegaram até mesmo a conquistar a cidade sagrada de Jerusalém por um período. Na Europa, portugueses e espanhóis haviam começado seu processo de conquista da Península Ibérica. Mas o maior perigo para os abássidas veio do extremo oriente, onde os Mongóis (descendentes de Gengis Khan) avançavam sobre o território asiático, empurrando tribos turcas para a Ásia Menor. Uma destas tribos turcas (os Seljúcidas) retiram os abássidas do poder e assumem o Sultanato (agora é em turco hehehe) na atual Turquia, enquanto na Pérsia os Mongóis tomavam o poder. 

O desmembramento do Império Mongol no século XIV facilita a retomada dos territórios islâmicos no Oriente, e a chegada de uma novo povo de origem turca (os otomanos) ao poder na região. Com o Sultão(Imperador em turco) Maomé II, a capital herdeira do Império Romano (Constantinopla) é tomada em 1453 passando a se chamar Istambul. O Império Otomano seria o grande expoente islâmico dos anos posteriores.



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