Vai parecer no mínimo confusa esta afirmação, porém, posso dizer com certeza que o Império Romano começa muito antes de Roma ter um Imperador. As terras conquistadas no século I a.C. transformariam de forma permanente as relações sociais em Roma. Primeiro vamos as consequências das conquistas contra Cartagineses e gregos. Roma enriquece, mas não todos, nós observamos que a partir de 146 a.C. Roma tem um amplo crescimento no número de escravos e na chegada de metais preciosos à Roma. Quais seriam as consequências??
Ao distribuir as terras para os patrícios, os romanos acabaram excluindo os pequenos agricultores romanos do processo, então, a grande maioria dos cidadãos romanos pertencentes a plebe se viu com poucas terras, sem condições de concorrer com o fluxo de grãos que vinha do estrangeiro e das grandes propriedades dos patrícios. Para os artesãos e trabalhadores de Roma, o grande fluxo de escravos desvalorizava o seu trabalho e trazia uma concorrência desnecessária aos romanos de classe média e baixa.
Um cargo de magistratura bem disputado naquele tempo era o de Tribuno da Plebe, aliás, era o único cargo que poderia rivalizar com as decisões do senado, portanto, muitos patrícios e ricos, buscavam no Tribunato da Plebe uma chance de ascensão política. Tibério Graco era um destes nobres que havia se tornado Tribuno da Plebe em 133 a.C. propondo imediatamente a limitação das terras públicas (conquistadas por Roma) aos patrícios sendo que o excedente seria distribuído aos pobres. A partir daí nós temos uma intensificação do conflito entre a Plebe e os patrícios novamente. O Senado tentava bloquear as ações da Assembleia da Plebe, por isso em 131 a.C. quando Tibério propôs uma reeleição, o mesmo foi assassinado e seus apoiadores foram mortos a pauladas e jogados no rio Tibre. Em 129 a.C. um senador Romano que direcionava sua política em defesa dos ricos, também foi morto. O conflito acentuava-se em Roma e no ano 121 a.C. Caio Graco, irmão mais novo de Tibério, propôs uma reforma mais radical que a do irmão, incluindo uma cota de Trigo subsidiada para cidadãos romanos. Resultado. Caio Graco e seus apoiadores foram assassinados pelo Senado.
A Crise Social romana acabaria se espalhando para um confronto na Itália. Em 91 a.C. uma coalizão de cidades italianas (descontentes com as políticas romanas) entra em Guerra contra Roma. Após dois anos de intensos conflitos esta aliança é derrotada, mas muitos italianos ganhariam o status de cidadão pleno, o que triplicaria o número de cidadãos romanos. Em 88 a.C. um dos generais que lutaram na chamada Guerra Social, chamado Lúcio Cornélio Sula, vai entrar em Roma para forçar o Senado a lhe permitir uma Campanha no Oriente no qual 4 anos mais tarde retornaria e obrigaria o Senado e lhe conceder o título de Ditador - um cargo usado excepcionalmente pelo Senado em tempos de guerra. Sula vai governar Roma até meados de 80 a.C. e nesse meio tempo vai garantir uma série de profundas reformas na República, incluindo a perseguição e morte dos opositores (cerca de 1/3 dos senadores). De forma bem resumida, as reformas de Sula revogaram algumas conquistas da Plebe, como o subsídio ao Trigo e o poder do Tribuno da Plebe, e garantiram a descentralização do poder, ao aumentar o número de senadores e regulamentar idades mínimas para cargos de Magistratura, como dos Cônsules, o que acirraria a disputa política em Roma. Sula abandonaria a política após suas reformas e morreria numa de suas casas no interior em 79 a.C.
Um dos resultados deste longo período de reforma social em Roma ocorre a partir do famoso Espártaco. Em 73 a.C. o escravo da Trácia (Região norte da Grécia) liderara um movimento na escola de gladiadores no qual fazia parte, e usando armas improvisadas, Espártaco e por volta de 50 companheiros, conseguem se revoltar e fugir do campo de treinamento. Outras revoltas eclodem e Espártaco se vê diante da liderança de milhares de escravos. Eles não buscavam o fim da escravidão, mas sim o retorno para casa. Foram quase dois anos de batalhas nos quais as legiões romanas seriam constrangidas com diversas derrotas. E isso provavelmente só foi possível porque diversos italianos descontentes com os resultados da Guerra Social e com a política de Sula devem ter se unido aos gladiadores contra Roma. No ano 70 a.C. Espártaco, derrotado, seria crucificado junto a milhares de revoltosos na Via Ápia, principal estrada que ligava Roma a outras cidades da Itália.
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