Nós já estudamos um movimento
de transformação do pensamento entre os séculos XIV e XVI, chamado de
Renascimento. Ele vai colaborar com o movimento iluminista a partir do momento
que ele ajuda a construir algumas bases do pensamento científico, como a visão através
do raciocínio, da observação e da experimentação. Porém, o Renascimento foi
principalmente um movimento cultural, bastante transformador na área das artes,
o movimento iluminista vai destacar-se em outras áreas, como;
O Pensamento Científico
Um elemento fundamental para o
iluminismo foi o pensamento científico que vai começar a aparecer no século
XVII. Ele consiste na construção de parâmetros metodológicos que vão permitir
aos cientistas aplicar os princípios universais da ciência (Leis da Ciência).
Alguns cientistas vão se
destacar no período como Galileu Galilei (1564-1642), considerado um dos
pioneiros no uso do Método científico moderno. Ele vai aperfeiçoar o telescópio
e defender a teoria Heliocêntrica, no qual o Sol era o centro do universo.
Francis Bacon (1561-1626) vai utilizar o empirismo (princípio filosófico que
determina a necessidade da experiência para comprovar a validade de uma
teoria). E René Descartes (1596-1650) vai aprimorar o empirismo de Bacon para
desenvolver seu método cartesiano, onde ele vai unir a observação e a
experimentação aos princípios do racionalismo lógico e matemático. Descartes
tinha como base a ideia de que a verdade era constantemente recriada pela
dúvida e pela reflexão, por isso, dele saiu a frase – penso, logo existo.
Talvez, Isaac Newton
(1642-1727) tenha sido o maior destaque deste período. É através dele que o
primeiro sistema científico moderno, a mecânica newtoniana surge. Em seu livro
Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, Newton analisou a forma como os
objetos se comportam em movimento, descrevendo a gravidade como a responsável
pelos movimentos tanto na Terra como nos céus, unindo esferas científicas
distintas, como as dos movimentos dos astros de Galileu, Hyugens e Kepler.
Crítica ao Absolutismo e a
Igreja
O pensamento iluminista
estendeu-se a outras áreas como aos modelos políticos do absolutismo. Um dos
pioneiros nesta crítica ao sistema absolutismo foi John Locke (1632-1704). Se
no campo da filosofia ele afirmava que tudo o que sabemos era a partir da
experiência, tornando-se uma referência na área do empirismo. Locke ficou
famoso através dos seus textos políticos. Uma das suas ideias era a de que os
homens nascem com direitos inalienáveis, como o direito à vida, propriedade e
liberdade. Havia um contrato social entre povo e governante, e se, um monarca
não obedecesse a esse contrato social, o povo poderia retirá-lo do poder. As
ideias de Locke e Newton se espalharam na França do Antigo Regime, e lá, François-Marie
Arouet, o famoso Voltaire (1664-1778) vai ser inspirado por elas, afirmando que
a certeza é absurda. Ele nunca negou a verdade absoluta, porém afirmava que a certeza
era mais confortável que a dúvida, insinuando que era fácil apenas seguir e
aceitar as regras da Igreja e do sistema monárquico. Ele defendia fortemente a
liberdade de expressão, a educação e a ciência como instrumentos necessários ao
progresso material e moral. Ao focar na crítica ao absolutismo, como um sistema
corrupto e violento, o Barão de Montesquieu ou Charles-Louis de Secondat,
propôs a criação dos três poderes, o executivo – que executa e administra as
leis, o legislativo – que elabora as leis e o judiciário – que julga quem
desrespeita estas leis. O sistema proposto por Montesquieu não previa que um
poder se sobressaísse ao outro, trazendo equilíbrio para a forma de se
governar.
Vivendo neste contexto
iluminista e opondo-se a maioria deles, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
inspirou-se na ideia de contrato social desenvolvida por Hobbes e aperfeiçoada
por Locke para contrapô-los. Rousseau era contrário a ideia de que o Ser humano
era violento e dominador por natureza, e que dependia da sociedade para
controlá-lo. Ele afirmava que os Seres Humanos nasciam bons, felizes e
independentes e que era a sociedade que os corrompia. Na sua obra, chamada de O
Contrato Social, Rousseau rebate Locke ao afirmar que o Homem nascia livre, mas
vivia acorrentado a toda parte. As leis eram impostas pelas classes dominantes,
acorrentando a liberdade e fortalecendo a desigualdade. Ao debater estas
ideias, Rousseau lança a proposta de criar leis que provinham de todos e se
aplicariam a todos, a chamada vontade geral. Ao elevar o povo a participação
geral na política, a eliminação da desigualdade e injustiça levariam a uma
sociedade cujo sentimento de Liberdade – Igualdade e Fraternidade tornar-se-ia
possível.
Crítica ao Mercantilismo
Na França, a ideia econômica que vigorava era chamada de Fisiocracia, ou seja, havia a ideia de que a riqueza provinha da terra. Um dos principais fisiocratas do período foi Quesnay. Para Quesnay, toda a riqueza derivava da Terra, por isso a segurança sobre a propriedade era fundamental.
Vivendo um contexto de Revolução Industrial, Adam Smith (1723-1790) vai ser um dos principais críticos do mercantilismo, criando uma ideia econômica, a do livre-comércio. Smith argumentava que o Homem é um animal que faz barganhas, o seja, nós vivíamos e necessitávamos da troca, seja de objetos ou de serviços. Essa capacidade de barganhar fez com que as famílias não se preocupassem em serem autossuficientes e pudessem especializar seus serviços ou produção, ou seja, elas poderiam ter algo a oferecer. O dinheiro foi um fator importante neste processo e graças a essa necessidade de barganha, as pessoas se especializavam cada vez mais (como padeiro, carpinteiro, etc...). Na sua obra A Riqueza das Nações – Adam Smith aborda a necessidade da divisão do trabalho (para o aumento da produtividade) e da necessidade de menor intervenção do Estado na economia, para que a mesma passasse a ser regulada pela Lei da Oferta e da Procura, o que seria um mecanismo eficiente no controle dos preços e da produção. Smith também apontou em sua obra que a principal fonte de riqueza de uma nação é o seu trabalho, não o acúmulo de ouro.
A Enciclopédia
Um elemento importantíssimo
para a consolidação do movimento iluminista foi a propagação das suas ideias.
Desta forma, a Enciclopédia elaborada por Dennis Diderot e D’Alembert, cujos
primeiros verbetes passam a ser publicados a partir de 1751 foi fundamental
para a consolidação deste movimento em contraponto ao poder absolutista e a
Igreja Católica. A missão da Enciclopédia era catalogar o conhecimento coletivo
do mundo ocidental seguindo o espírito do iluminismo. Nela, encontravam-se
diversos pensadores do período, como Montesquieu, Rousseau e Voltaire. O
principal foco da enciclopédia era basear a sociedade através do pensamento
racional, mostrando a importância da observação e das experiências para a
ciência, além da busca de uma forma de organizar estados e governos em torno de
uma lei e justiça natural. Apesar das inúmeras tentativas de censura e
intimidação, a Enciclopédia pôde ser publicada e acabou se transformando na obra
mais influente do período, inspirando as Revoluções da França, dos EUA e do
Haiti.