INDEPENDÊNCIA DOS EUA (REVOLUÇÃO AMERICANA)

 


A Independência dos EUA tem na expressão “Revolução dos EUA” um primeiro debate. O conceito de Revolução compreende uma grande mudança na estrutura de Estado ou Civilização. Porém, apesar da implementação inédita da República nos moldes iluministas, incluindo o direito de voto (democracia), ela não ocorre num primeiro momento para todos os americanos. Havia escravidão e expulsão dos indígenas das suas terras, e as mulheres permaneciam sem o direito de voto. Logo, a “Revolução” não aconteceu para grande parte da população americana. 

Os antecedentes
Alguns fatores favoreceram a ideia de libertação das Colônias americanas frente a Inglaterra. No cenário internacional, uma guerra entre grandes potências europeias (basicamente a Inglaterra e seus aliados como a Prússia e Portugal contra a França e seus aliados como a Suécia, Áustria, Rússia e Espanha) desencadearam um conflito internacional, que reverberou nas colônias da América (incluindo no Brasil com a disputa entre espanhóis e portugueses pela região das Missões). Este conflito, chamado de Guerra dos Sete anos (1756-1763), teve grandes enfrentamentos nas colônias britânicas e francesas na América do Norte, com ambos se aliando a povos nativos para atingirem seus objetivos. A derrota dos franceses faz com que os ingleses conquistem grande parte das colônias francesas na América do Norte. Apesar de vitorioso, o conflito trouxe impactos econômicos para o Império e fortaleceu uma ideia dos colonos americanos de buscar uma equidade de tratamento aos britânicos, haja visto que muitos deles haviam sido decisivos para a vitória frente aos franceses. 

A Autonomia das colônias inglesas no norte da América já era uma preocupação secular do Império Britânico. Algumas ações tentavam impor a uma maior centralização das colônias americanas frente aos britânicos, mas desde a Revolução Gloriosa, este sentimento de autonomia se proliferava, com o fomento inglês a autonomia destas colônias. 

Se na década de 1760 o sentimento dos colonos em relação ao seu pertencimento ao Império encontrava-se no seu ápice, é a partir desta mesma década que a relação entre ambos começa a se afastar. Os americanos muitas vezes nos apresentam um olhar de independência em relação a um império maligno, rico e vilão, onde os populares puderam levantar suas armas e buscar sua emancipação. Na verdade, quem buscou a Independência foram as elites, descontentes não com as taxações (que eram insignificantes) mas com a imposição destas leis pelo Império, o que feria a sua ideia de autonomia.  As Treze colônias tinham uma distribuição de renda e uma expectativa de vida superiores aos dos próprios ingleses. 

As taxações (acts) foram alguns dos motivos de descontentamentos entre colonos e ingleses. A Lei do açúcar em 1764, taxava o açúcar da colônia que não fosse produzido pelas Antilhas inglesas. Era uma forma de proteger os colonos ingleses das ilhas da América Central, porém descontentava os colonos que viviam do contrabando para aquisição de escravizados. Em 1765 nós temos a Lei do Selo que obrigava que toda a impressão tanto no império como nas colônias, fossem realizadas a partir de um papel timbrado pelo Império, esta lei vai ser polêmica, sendo derrubada dois anos mais tarde. Com Lord North nós temos a implementação da Lei do Chá em 1770 – uma lei que diminuía a taxação sobre o chá, porém ele seria cobrado nos portos da Colônia, o que diminuiria a ação dos contrabandistas.  Os colonos americanos já estavam descontentes, não com a cobrança dos impostos, porém com a imposição destes, o que os afastava do seu ideal de autonomia frente ao Império. Com relação a Lei do Chá, em 1773 nós temos o famoso episódio da Festa do Chá no porto de Boston, quando mais de 10 mil libras de Chá são atiradas no mar por contrabandistas disfarçados de indígenas. A reação dos britânicos foi a militarização do porto e consequentemente da cidade de Boston. Esse conjunto de ações, chamadas de Leis de Coação (apelidadas pelos colonos de Leis Intoleráveis) previam a interdição do porto até a recuperação dos prejuízos com a perda do chá e a proibição de reuniões entre os colonos. Há uma reação com o Primeiro Congresso da Filadélfia em 1774, lá representantes de 12 colônias manifestaram seu descontentamento através de uma carta ao rei George III, exigindo a retirada das leis e a equidade entre os colonos e os ingleses na participação das decisões da Coroa Inglesa. Uma frase de John Adams resume a ideia do Congresso da Filadélfia – “Nada de Taxação sem representação”.  

A Guerra! 

A resposta do rei George a carta escrita no Primeiro Congresso da Filadélfia em 1774 nunca foi respondida. As tropas inglesas fixadas em Boston não eram retiradas. E os colonos americanos não conseguiam participação efetiva na monarquia inglesa. Tudo isso fez com que os colonos preparassem uma revolta na província de Massachussetts. Em abril de 1775 o exército inglês tenta uma ofensiva surpresa para destruir os estoques de armamentos dos colonos em Lexington e Concord, em 19 de abril de 1775 os primeiros tiros seriam disparados, começava aí o conflito armado. Em 1776 os colonos liderados por George Washington tentaram recapturar Boston numa manobra chamada de Cerco de Boston – em julho deste mesmo ano, num Segundo Congresso da Filadélfia, representantes das Treze Colônias organizam uma Declaração de Independência, o dia 4 de julho de 1776 é considerado o dia da Independência dos EUA. Aliás, o próprio nome – Estados Unidos da América – é uma tentativa de união entre as mais variadas colônias inglesas, que tinham em comum apenas o sentimento de proteção e agora de republicanismo. Na Declaração da Independência, cujas assinaturas vão terminar apenas no ano seguinte, os ideias iluministas ficaram bem claros, além de um texto maçante, resultado de uma construção feita através de muitas mãos, muito diferente da ideia que a expressão de Thomas Jefferson nos demonstra, como esta [...] consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade. A beleza forçada da declaração de independência (o próprio autor que defendia a liberdade com tanta força, tinha um contingente de 200 escravizados) continua na ideia de heroísmo americano nas batalhas frente as Casacos Vermelhos ingleses, transpostos em filmes como o Patriota de forma totalmente vilanizada. O conflito em si, durou entre os anos de 1776 e 1781, com os ingleses conseguindo vitória importantes, começando por Bunker Hill que apesar de ser uma vitória Pírrica expulsou os americanos de Boston, também conseguiram controlar a capital dos rebeldes, a Filadélfia, além da cidade de Nova York. Além disso, os rebeldes liderados por George Washington não conseguiram o apoio dos colonos do Canadá, que optaram por serem legalistas. Porém, a partir de 1777 os ingleses sofrerão revezes importantes, como a Batalha de Saratoga, onde os rebeldes derrotam os legalistas em Nova York atraindo os franceses para a disputa contra os ingleses. O conflito colonial tornou-se uma disputa europeia entre os britânicos e os franceses que também tiveram os espanhóis como aliados. A falta de oficiais, soldados e suprimentos para as batalhas dificultou a campanha inglesa que chefiados pelo General Cornwallis optou por deslocar seu front de batalha para as colônias do sul, onde havia maior apoio legalista. Apesar da manobra, a ajuda francesa profissionalizou as tropas rebeldes, que em 1781 conseguiram a sua vitória final contra os britânicos no cerco de Yorktown. Esta vitória só foi possível graças ao apoio francês por terra e por mar, já que o certo a Baía de Cheasepeak naquele ano, impediu a saída das tropas inglesas de Cornwallis 









Independência para todos? 

O sucesso dos EUA é consolidado no Tratado de Paris em 1783 onde os britânicos reconhecem a Independência das suas Treze colônias. A Constituição americana é consolidada e nasce o sistema republicano moderno, cujo primeiro presidente seria George Washington e John Adams o vice. Personagens importantes vão compor o governo, como Thomas Jefferson e Benjamin Franklin, por exemplo. Aos escravizados, a independência alargou o martírio dos cativos, enquanto a Inglaterra abolia a escravidão dez anos depois, os EUA precisaram de uma Guerra civil para poder trazer a liberdade aos cativos. Os pais fundadores, como ficaram conhecidos os principais articuladores da Independência, eram em grande maioria possuidores de diversos escravizados. Aos indígenas, que tinham diversos acordos com os ingleses por sua posse de terras, apesar de haver conflitos como o de Pontiac, a pressão dos EUA em sua busca por novos territórios além Apalaches, fez aumentar a velocidade de perda de Território por estes povos. Quanto aos ingleses, num primeiro momento, a perda das Treze colônias trouxe benefícios, pois houve a manutenção do comércio com os EUA e os seus aliados legalistas das antigas colônias, acabaram migrando para os territórios de norte do Canadá, povoando a região e impedindo a expansão dos colonos franceses de Quebec. 



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