A PRÉ-HISTÓRIA NO BRASIL

22 de Abril de 1500, um dia após ter observado um Porto Seguro, a grande frota portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral aporta no Brasil, daí vem aquela historinha se foi descobrimento ou não... Independente disto, todos nós sabemos que já haviam populações humanas no Brasil, e o mais importante é identificarmos quando elas chegaram e de onde elas vieram.

Desde o Habilis as espécies humanas já estavam saindo da África para o mundo, isso há mais de 2 milhões de anos! Depois nós temos espécies de Erectus que se espalham pelo globo, chegando em toda a Ásia, norte da Europa e até mesmo em algumas ilhas do que hoje são as Filipinas, Indonésia entre outros... Mas de repente aparece o Homo Sapiens na África, a data mais antiga é de 315 mil anos atrás. Esta espécie sai do continente africano por volta de 200 mil anos atrás, chegando até o extremo asiático por volta de 150 mil anos. Mas eles continuam sua caminhada, chegando na Austrália e Nova Zelândia há 70 mil anos enquanto outros grupos humanos chegavam na Europa por volta de 45 mil anos atrás. Maaaaas faltava chegar algum humano no segundo maior continente da Terra, a América. E essa chegada ainda cheia de mistério, apresenta diversas possibilidades.

  1. Niède Guidon, uma importante arqueóloga brasileira sustenta a hipótese dos primeiros humanos terem chegado no Brasil a partir da África há 50 mil anos atrás. Ela se baseia nos restos de fogueira que foram encontrados no sítio Arqueológico do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí. Esta hipótese não é muito aceita atualmente.
  2. A viagem marítima via Polinésia até a América do Sul é uma segunda hipótese. Ela teria acontecido por volta de 40 mil anos atrás e explicaria o fato de algumas ossadas conterem genes de populações daquela região. Essa travessia foi possível porque os oceanos estariam num nível muito mais baixo devido o esfriamento do planeta.
  3. O Estreito de Bering é uma passagem entre Ásia e América, fica lá no norte e com as ondas de frio que ocorreriam até 14 mil anos atrás, os grupos humanos poderiam ter passado por ali diversas vezes, povoando o continente. Isso explicaria a similaridade dos índios com as populações da China, Indonésia e Japão, por exemplo. Esta teoria é a mais aceita atualmente e justifica até mesmo os genes de Polinésia, explicando que entre essas travessias humanas, muitos grupos de características bem antigas (as mesmas dos polinésios) teria passado por ali.
 
Mapa das hipóteses de travessia pelo Estreito de Bering e pelo Pacífico.

 
Bom, se aceitarmos a passagem pelo Estreito de Bering, podemos dizer que elas ocorreram em tempos diferentes, entre 20 e 14 mil anos atrás, estas primeiras populações teriam chegado em todo o continente americano por volta de 11 mil anos atrás. No Brasil elas teriam chegado através da Floresta Amazônica e pelo sul através dos Andes entrando no Rio Grande do Sul pelo Rio Uruguai. 

NO TEMPO DA LUZIA

Dentre os principais sítios arqueológicos brasileiros que contém os resquícios humanos mais antigos do Brasil, nós podemos destacar o Parque Nacional da Serra da Capivara no Piauí e Lagoa Santa em Minas Gerais. Neste último sítio arqueológico foram encontrados fósseis de até 13 mil anos atrás, como no caso de Luzia, apelido dado inspirado na Lucy (apelido de uma australopiteca encontrada na África). Num primeiro momento achava-se que a Luzia teria os mesmos traços das populações da Austrália, conforme a imagem nos mostra, porém em 2018 novos exames de DNA comprovaram que ela possuí o mesmo DNA dos índios americanos, o que comprova a teoria de que povos da Ásia atravessaram o estreito de Bering.
 
Essa aparência da Luzia demonstrou-se equivocada em 2018.

 
Ao analisar as primeiras povoações que habitaram o Brasil nós utilizamos o termo TRADIÇÃO, que nada mais é do que identificar o tipo de material encontrado e analisar a forma de vida similar entre populações. Por exemplo, podemos dizer que habitantes pré-históricos que habitavam o sul e sudeste do Brasil entre 11 mil e 8 mil anos atrás e tinham preferência por campos e savanas, sendo caçadores-coletores são pertencentes a uma tradição Umbú. Esses humanos conviveram e caçaram animais da Megafauna, como Mamutes, Preguiças Gigantes e Tigres Dentes-de-Sabre. Esses humanos eram nômades e utilizavam instrumentos de pedras lascada. Com o fim da Megafauna por volta de 8mil anos atrás, estes povos foram se adaptando em matas fechadas e no litoral.
 
Animais da Megafauna Brasileira.

 
Falando em Litoral, outra tradição que ocorrera em diversas partes do mundo e também no Brasil, entre o Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul, foi a Tradição Sambaqui. Os povos Sambaquis (do tupi amontoado de conchas) predominaram o nosso litoral entre 8 mil e 2 mil anos atrás. Essas populações tinham uma grande oferta de alimentos e preferiam ficar próximos do litoral. Os Sambaquis eram feitos com restos de crustáceos, eles poderiam indicar um limite daquele grupo humano, serviam como túmulos, armazenamento de alimentos, enfim os sambaquis representam um importante movimento cultural de populações que viveram no litoral do Brasil.
 
Sambaqui em Santa Catarina

 

É HORA DE PLANTAR!

A maioria das populações que vieram até a América do Sul percorreram a vasta floresta Amazônica, que há 10 mil anos atrás não era tão vasta e fechada assim, até porque se o fosse, a megafauna não teria existido ali. Porém com as mudanças climáticas globais as regiões de floresta se espalham pelo Brasil, e as populações amazônicas começam a se expandir. Esta população Amazônica tinha disponível para si uma grande variedade de alimentos e acabou transformando de certa forma a vegetação da floresta, levando castanheiras e palmeiras em regiões nas quais estas plantas não deveriam se desenvolver... Como isso acontecia?? O pessoal fazia cocô e jogava restos de alimentos pelo caminho né!!
Agora a domesticação das plantas na Amazônia e claro, o desenvolvimento da Agricultura, tem sua origem no Peru mas também no Mato Grosso(lugares atuais) quando a percebemos há 6 mil anos as primeiras plantações de mandiocas, cujo tipo predileto era a brava, mortal se não fosse preparada corretamente. Esta toxidade tornava este tipo de Mandioca mais forte contra as pragas. Com o tempo desenvolveu-se a agricultura na Amazônia, o uso da Terra Preta (originada do desmatamento e queimada das árvores) permitiu a plantação de diversos alimentos, como pimenta, pimentão, milho, feijão, cacau, cupuaçu, açaí, entre outros. 
A agricultura foi um diferencial importante entre os povos amazônicos e os povos paleoíndios como os Sambaquis e outros caçadores coletores que habitavam o restante do Brasil pré-histórico. A agricultura permitiu um maior desenvolvimento da cerâmica e de ferramentas para o preparo de alimentos, sofisticando de maneira geral as ferramentas destes povos sedentários. Além disso a sedentarização dos povos amazônicos permitiu o aumento da população e também uma estruturação social com maior hierarquia. Uma famosa cultura sedentária se desenvolveu na ilha de Marajó no Pará, esta cultura chamada hoje de Marajoara, utilizava "tejos" aterros para aproveitar-se da época de cheias, plantando e criando lagos artificiais para pescado. A qualidade da cerâmica e os vestígios arqueológicos sugerem que havia uma grande sociedade na região, uma espécie de chefatura, um tipo de governo que supostamente influenciava e dominava regiões ainda maiores ao seu redor. Infelizmente a cultura marajoara desapareceu antes mesmo dos europeus chegarem na região, e devido a altíssima umidade da floresta, muitos destes vestígios arqueológicos são perdidos.
 
 
Cerâmica Marajoara


OS TUPIS ESTÃO CHEGANDO...

Por volta de 5 mil anos atrás podemos perceber a influência da agricultura na pré-história americana. Provavelmente devido a agricultura, a sedentarização e ao aumento da população, grupos étnicos começaram a se separar, e a partir da Amazônia nós podemos perceber três dos quatro grandes grupos linguísticos do Brasil antes de Cabral. Foi um processo longo que durou muitos anos, mas por causa da linguística, podemos identificar os mais variados idiomas indígenas existentes hoje tem em sua grande maioria uma origem comum na Amazônia. O mais extenso grupo linguístico e cultural que saiu da Amazônia foi o Aruak, que hoje ainda sustenta 60 línguas diferentes que vão desde o Paraguai até Honduras, lá na América Central. Aliás, são nativos deste grupo linguístico que irão encontrar Colombo nas Bahamas em 1492. 

O mais presente no Brasil é o grupo linguístico Tupi, estando apenas na América do Sul. É provável que os Tupis tenham se originado há 4 mil anos, de forma geral os povos de origem Tupi não tinham uma organização social muito complexa, mas eram altamente voltados para o conflito e muito adaptados a floresta. Por volta de 2mil anos atrás estes grupos deixaram a Amazônia e foram conquistando o litoral brasileiro, num grupo linguístico chamado de Tupi (ah, os sambaquis sumiram por causa dessa expansão tupi) e outro saiu pelos Andes percorrendo a mata Atlântica entrando no Brasil através do rio Paraguai estendendo-se do Rio Grande do Sul até São Paulo num grupo linguístico conhecido como Guarani. Daí vem o nome do tronco linguístico que abrange 40 línguas diferentes hoje, os tupi-guarani. No tempo da chegada dos portugueses nós encontramos os mais variados grupos tupis pelo país, desde os guerreiros Tapajós na região do Pará, os aliados tupiniquins no Nordeste e os desafetos guaranis destes, os Carijós. Aliás o conflito entre os diversos povos tupi-guarani foi muito bem aproveitado pelos portugueses. É de algumas tribos tupis que nós temos a famosa antropofagia (comer gente!) na maioria dos conflitos entre tribos tupi-guarani a captura era importante para os mesmos poderem absorver a força guerreira do inimigo num ritual festivo que terminava é claro, com um canibalismo. Flechas e as maças eram as armas preferidas, como defesa existia apenas um leve escuto com pele de tatu.

O terceiro grupo linguístico (e não menos famoso) a sair da Amazônia foram os Carib, que puderam habitar a vasta região do Xingú e algumas ilhas da América Central, ou você não percebeu que Caribe vem destas tribos caribenhas hehehe...aliás, se não fosse a chegada dos europeus seria muito provável que o domínio de todas as ilhas caribenhas fossem realizadas por povos desta origem linguística, devido a sua grande capacidade guerreira. Hoje existem mais de 30 grupos linguísticos originários deste tronco linguístico que se originou na Amazônia.

Agora vamos para o único grande grupo linguístico que não vem da Amazônia, aliás, é um grupo que deu origem a mais de 20 línguas presentes até hoje, incluindo os famosos Xavantes, Caingangues, Carajás e Botocudos. Este grupo linguístico é o do Macro-Jê e desenvolveu-se principalmente no planalto central do Brasil, que começava lá sul do Pará e viria até o norte do Rio Grande do Sul, percorrendo grande parte do interior brasileiro. Para os portugueses que desconheciam este idioma assim como seus aliados (algumas tribos tupis) o termo usado para tribos desta origem era o de Tapuias, aqueles que não falavam tupi. É provável que tribos de origem Macro-Jê tenham entrado em conflito com tribos guaranis no Rio Grande do Sul, freando um pouco o seu domínio na região. 

Mapa dos grupos indígenas antes dos portugueses no Brasil.

 

Mesmo existindo sociedades muito evoluídas no Brasil pré-histórico, não observamos uma vasta gama de domesticação dos animais, pois os cavalos já tinham sido extintos neste continente e os lobos também não pertenciam a este habitat, assim como não havia presença de gado, dificultando o processo de domesticação e criação de animais - tirando o lhama nos Andes e um pato selvagem em algumas regiões do Brasil. Também não havia possibilidade de mineração da forma como ocorrera no oriente e o desenvolvimento de uma indústria do ferro não se desenvolveu aqui também. Quanto a escrita, não houve essa necessidade na região do Brasil devido a intensa cultura oral que existia nestes povos, então só  percebemos uma escrita na América restrita aos Maias e Astecas e um sistema de nós adotados pelos Incas. Também podemos analisar que os variados povos Tupis estavam longe do seu ápice durante a chegada dos europeus, podemos perceber isso pelo simples fato que algumas tribos correram para buscar uma aliança com os europeus para poder derrotar os seus inimigos.

Assista a aula:


 

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