ABSOLUTISMO E MERCANTILISMO

 


Os Estados Modernos tiveram como característica política entre os sécs. XVI e XVIII a centralização do poder no monarca, num sistema político conhecido como Absolutismo. Este monarca concentrava em suas mãos a elaboração das leis, a aplicação da justiça e todo o aparato administrativo do Estado, tomando as principais decisões. Não podemos entender, porém, absolutismo como o rei com o poder Absoluto, pois ele deveria respeitar as leis, as tradições e os costumes do seu reino, evitando conflitos com seus súditos. O monarca absolutista também tinha que distribuir seus poderes a outros funcionários, à medida que este Estado acabava se expandindo, como as colonizações em outros continentes.

A Guerra dos Trinta anos foi fundamental para fortalecer a ideia de Estado racional ao invés da religião que predominava interesses e decisões de governo. Com o Tratado de Paz de Westfália (Vestfália) surge a ideia de Soberania e agora o Estado detinha independência absoluta em relação ao plano externo e interno, ou seja, outras forças (outras nações ou a Igreja) não poderiam interferir no Estado, pois este havia conquistado o seu direito através do uso da força sobre determinado território e população.

Os Estados Modernos tiveram uma base teórica que justificavam seus governos e governantes. Um destes teóricos era Nicolau Maquiavel (1469 – 1527). Ele trabalhou no governo de Florença por muitos anos, percorreu a Itália e conheceu até mesmo o Papa em suas missões diplomáticas, porém, quando Florença se alia a França contra a Espanha e são derrotados em 1512, o mesmo fica exilado em sua fazenda. No exílio Maquiavel concebe uma de suas obras mais famosas, que tinha como foco presentear Lorenzo de Médici que governava Florença na época. Sua obra o Príncipe partir dos seus conhecimentos adquiridos no governo e tinha como objetivo aconselhar os príncipes a como agir na política. Um dos principais apontamentos de Maquiavel em sua obra é a qual os príncipes devem se afastar da moralidade cristã se quiserem atingir a sua glória e o sucesso do Estado, ou seja, os fins justificam os meios. Dentro deste panorama, Maquiavel aconselhava os soberanos, dizendo que o povo devia temê-los e amá-los, mas jamais odiá-los. Para isto o governante deveria ser firme, nunca castigando o seu povo, nas fazendo com que alguns poucos fossem penalizados com força, mostrando o seu poder, ou seja, o soberano deveria mostrar a força de um Leão e a perspicácia de uma raposa. Até hoje não se sabe a real intenção de Maquiavel com sua obra, pois ela destoa em alguns aspectos da sua obra posterior, Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. Porém é nítido que os valores cristãos não eram prioridade em sua obra, aja visto que mesmo para os cidadãos comuns, ele aconselhava um certo afastamento destes valores, mesmo que os fins não justificassem os meios para esta classe.


A ideia de direito divino do trono prevalecia nos Estados Modernos, afinal, nem todo o governante era forte como um Leão e inteligente como uma raposa. A ideia de que um soberano recebe o direito de governar através da vontade de Deus diminuía qualquer movimento para depô-lo. Essa ideia é associada ao filósofo francês Jean Bodin, que acreditava ser a soberania absoluta e indivisível e que os súditos de um rei estavam excluídos da resistência a sua autoridade. Resistir contra o rei seria resistir contra alguém que só deveria se reportar à Deus. E quando a Igreja perde força nas tradições e cotidiano dos seus súditos, a legitimidade do governo entra noutra conjuntura, explicada por Thomas Hobbes em sua obra o Leviatã.

Hobbes pensava ser difícil para o ser humano se dar bem uns com os outros sem uma força visível que restringisse as nossas paixões naturais. Ao abordar a natureza da autoridade em sua obra Leviatã, Hobbes afirma que num estado de natureza, o ser humano poderia possuir tudo o que quisesse, e com a disputa de recursos entre os mesmos, haveria um verdadeiro desastre, pois a disputa pelo espaço traria a guerra incessante. A condição natural dos seres humanos seria a Guerra.

O limite para este estado natural era o nosso medo da morte, por isso, os humanos vivem a partir de três leis;

·         Os humanos sempre buscam e desejam sempre a paz, pois viver num estado de natureza significa muitas vezes o perigo contínuo da morte;

·         Para manter a paz nós temos que renunciar à nossa liberdade, nos contentando em aceitar a liberdade em relação aos outros tanto quanto queremos a nossa.

[...] é como se todos os homens dissessem a todos os outros. “autorizo e abro mão do meu direito a me governar em favor deste homem ou assembleia de homens, sob a condição de que, da mesma forma, tu abras mão do teu direito em favor dele, e autorizes todas as suas ações.”

·         Hobbes sabe da dificuldade dos humanos em aceitar as leis impostos e honrar os acordos, por isso sua terceira lei determina que as pessoas devem manter seus acordos. Para evitar um retorno ao nosso estado de natureza, devemos nos submeter a um único poder absoluto, que garantirá nossa paz e segurança.

Desta forma Hobbes afirmava que as pessoas deveriam renunciar a sua liberdade e estado natural, e que o direito de governar do rei vinha de um contrato social entre o soberano e seus súditos.

Nesta época ganha força a prática mercantilista no continente europeu. As grandes navegações e abertura comercial para o mundo, trouxeram para estes Estados Modernos a possibilidade de fortalecer a sua economia e política. As diversas práticas para este fortalecimento dos rendimentos dos Estados modernos, ganha o nome de mercantilismo. As principais características do mercantilismo era o rígido controle da economia pelo Estado, sempre favorecendo uma balança comercial positiva, seja estipulando altas taxas alfandegárias, o acúmulo de metais (metalismo) o exclusivismo comercial com suas colônias entre tantas outras.




Estados absolutistas europeus

Neste contexto do absolutismo nos Estados Modernos da Europa, nós podemos destacar alguns Estados poderosos que viveram sob esta característica política. Os Estados que tinham mais colônias na América, como Portugal e Espanha, também tinham características absolutistas. Em Portugal d. João III criou uma série de políticas econômicas centralizadoras, mantendo o controle de comércio com a Índia e incentivando a plantation do açúcar no Brasil através das Capitanias Hereditárias. O reino da Espanha também foi um forte expoente do absolutismo europeu, foi através dele que a Coroa espanhola deu um grande salto, unificando o reino e conquistando diversos territórios na América, principalmente devido ao grande investimento na Armada. No século posterior o absolutismo espanhol continuou fortalecido, desta vez graças ao metalismo – uma política mercantilista de acúmulo de metais preciosos.

A Inglaterra tem um caminho diferente das nações ibéricas. Lá a monarquia era mais antiga, e passou por fenômenos diversos, como a centralização do poder com o duque Guilherme da Normandia no séc. XI e a limitação da autoridade real no séc. XIII através da Magna Carta. Além destes fatores, a Guerra dos Cem Anos vai enfraquecer o poder feudal e fortalecer o poder da monarquia. A disputa entre as casas dos Lancaster e York vai resultar num conflito interno bastante violento, chamado de a Guerra das Duas Rosas (1453-1485). Deste conflito ascende ao poder a família Tudor, através de Henrique VII, com o seu filho, Henrique VIII nós temos novamente um fortalecimento da centralização do poder nas mãos do rei, era o absolutismo inglês.

A filha e herdeira do trono de Henrique VIII – Elisabeth I, era filha do mesmo com Ana Bolena, a segunda esposa de Henrique VIII. Com ela, o poder absolutista inglês se estabiliza, a frota marítima cresce, e desta forma, os ingleses passam a participar da corrida por colônias na América. Mas o principal fenômeno do período é o desenvolvimento das manufaturas inglesas, como a produção de tecidos. Com isto, a burguesia inglesa passa a apoiar a monarquia conseguindo entre troca, expandir seus mercados através dos mares, graças a intervenção da marinha inglesa. Estes fatores mantém uma balança comercial positiva para a Inglaterra, favorecendo sua política mercantilista.

É na França que o absolutismo atinge seu ápice, através de Luís XIV, grande símbolo desta política. Aliás é com Luís XIV que nós temos as expressões, o Rei-Sol, o Grande. Ele foi o monarca com maior duração comprovada na História, no total foram 72 anos no poder. A ascensão de Luís XIV e seu poder só foi possível através da ação do cardeal de Richelieu que atuou como primeiro-ministro logo após as guerras religiosas. A política do cardeal foi reforçar o poder da monarquia no Estado francês, enfraquecendo o poder das lideranças locais, dentro desta política nós podemos citar o combate aos huguenotes, o que culminou na saída dos mesmos da França. Resumidamente, o cardeal foi o responsável por enfraquecer a nobreza local (poder feudal) e fortalecer a monarquia, desta forma, Luís XIV conseguiu tornar-se um símbolo do absolutismo.




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