BAIXA IDADE MÉDIA: A CRISE DO SÉC. XIV E O RENASCIMENTO


 O Século XIV não foi tão bom no mundo Cristão. O crescimento econômico, com a expansão da agricultura e do comércio que existiam no século anterior, agora foram afetados. Mas o quê afetou a Europa neste século? Na verdade são vários fatores, mas podemos destacar dois deles. 

O Primeiro fator é o da Peste Negra. Esta doença transmitida pela pulga do rato e que matava cerca de 80% dos doentes, chega com força no continente europeu e entre os anos de 1347-1352, matando cerca de 1/3 da população europeia da época. A Peste Negra ou Peste Bubônica, traziam sintomas como manchas de cor negra no corpo, pústulas, ou seja, pequenos tumores purulentos, vômito, febre alta, dor intensa e confusão mental, conforme relato de um observador ao verificar a chegada de um navio infectado no porto.

[...] uma vez que os navios finalmente atracaram, um observador teria imediatamente visto [...] que todos os homens a bordo estavam mortos ou morrendo. Eles pareciam fantasmas, com tumores e pústula negras pelo corpo e estranhos inchaços negros do tamanho de maçãs sob os braços, no pescoço e nas virilhas, escoando pus e sangue.

 As consequências da Peste Bubônica para a população europeia foram extremas. A intensidade de mortes e o pânico, esvaziavam as cidades e o meio rural, criando verdadeiros bolsões inabitados. Este choque demográfico afetou a economia, elevando os preços dos alimentos ao mesmo tempo que diminuía a oferta deles. A Fome aumentou no continente. Com a peste, há também diversas revoltas camponesas, todos (praticamente) haviam perdido algum ente querido para a doença, e o aumento de impostos e dos preços aumentava ainda mais essa revolta com o mundo no qual viviam.

Outro fator que determinou a Crise do século XIV foi a Guerra dos Cem Anos, travada entre ingleses e franceses em intervalos de períodos entre os anos de 1337-1453. Com interesse econômico na região de Flanders. Os ingleses passaram a reclamar direitos hereditários em relação ao trono francês, iniciando um longo conflito entre ambos, o que agravava a fome e a disseminação da Peste. Até mesmo a Igreja foi envolvida, pois entre 1377 e 1417 dois Papas dividiriam o poder, o representante francês ficaria em Avignon e o inglês em Roma. Uma personagem de destaque nesta guerra foi Joana D'Arc, uma jovem que alegando receber mensagens divinas, convenceu o rei Carlos VII a deixá-la na frente dos soldados em batalha (não sabemos se ela entrou em combate) liderando uma reviravolta para os franceses na Guerra contra os Ingleses. Ela seria presa e condenada a fogueira anos antes do final do conflito, morrendo com apenas 19 anos.

Tanto a Peste, como a Guerra dos Cem anos e a Crise da Igreja, vão enfraquecer o poder feudal, favorecendo a centralização do poder nas mãos dos reis. Este fenômeno vai permitir a chegada dos Primeiros Estados Nacionais do continente, como Portugal e França.

O Renascimento

De maneira geral, a crise do séc. XIV promoveu o crescimento da classe burguesa, o que permitiu uma maior centralização do poder em relação aos reis. Na região da Itália, com burgos mais poderosos, as cidades mercantis como Veneza, Gênova e Florença, já estavam estabelecidas como grandes potências. Nestas cidades, as famílias mais poderosas disputavam o poder através de seus mercenários, os condottieri (comandantes) que tinham muita influência política na maioria das vezes. Essa burguesia enriquecida sentia a necessidade de afirmar seu status, divulgando valores que as desvinculassem da nobreza e do clero, com isso, nós temos os benfeitores (mecenas). Eles patrocinavam artistas que expressassem valores novos em suas obras. Este movimento que acontecia na Itália, vai permitir o fortalecimento de uma renovação cultural e intelectual que nós chamaremos (apelido dado no séc. XVI) de Renascimento.
Aliás o termo Renascimento surgiu para caracterizar uma época de renovação cultural e intelectual em relação a Idade Média, mas não no sentido de resgate da antiguidade grega e romana e sim no sentido de renascer intelectualmente após a Idade Média. Este período do Renascimento teve três séculos distintos;
  • Trecento (Séc. XIV): período de transição entre os valores artísticos da Idade Média e do Renascimento. Destaca-se o pintor Giotto que já representava as figuras humanas de maneira naturalista. O poeta Francisco Petrarca destacou-se no cenário literário.
  • Quattrocento (Séc. XV): a prosperidade econômica das cidades italianas impacta no processo artístico e cultural. Escultores como Ghiberti e Donatello e pintores como Masaccio e Botticelli se destacam. Até mesmo a Igreja começa a encomendar obras monumentais renascentistas. A cúpula da catedral Maria del Fiori em Florença foi construída por Brunelleschi. 
  • Cinquecento (Séc. XVI): é a conhecida Idade de Ouro do renascimento. Neste período nós temos as obras de artistas como Michelangelo, Rafael e Leonardo da Vinci. Este é o período de crise econômica destas cidades italianas, em razão das expedições marítimas de Portugal e Espanha.
O Renascimento trouxe também uma visão de mundo diferente da que prevalecia na Igreja. A partir do século XIV a visão teológica do conhecimento seria substituída por uma visão chamada de Humanista, ou seja, surge um programa de estudos renovador que colocava em prática conhecimentos humanos como poesia, gramática, história, filosofia, matemática, retórica e ética. O humanismo não era um movimento organizado ou antirreligioso, era uma prática de conhecimento onde cada estudioso tinha suas preferências e seus autores variados, mas todos compartilhavam sentimentos comuns, como o de crítica a estagnação do saber tradicional (religioso), o de entusiasmo pelos autores da antiguidade e o de respeito à liberdade de pensamento. 
O pensamento humanista rivalizava com o pensamento teológico de Igreja Católica. Enquanto a Igreja valorizava o conhecimento adquirido pelo método escolástico, ou seja, uma forma que tentava unir fé e razão, adaptando os pensamentos de Aristóteles e Platão a autoridade da Bíblia. Já os renascentistas buscavam o conhecimento através da análise dos fenômenos naturais e humanos. Alguns humanistas tentaram formular um método racional e universal, sendo o início de um processo para a fundamentação da ciência moderna. Apesar de não possuírem um método de estudo único, os pensadores renascentistas reforçaram faculdades mentais que se tornaram a base da ciência moderna, como:
  • Raciocínio: O uso da razão já existia desde a filosofia grega e também era utilizado pelos teólogos, porém os renascentistas utilizaram diversas projeções geométricas, desassociando o pensamento da Igreja do humanista.
  • Observação: com os renascentistas a observação da natureza como objeto de curiosidade foi uma implementação importante neste método.
  • Experimentação: era a capacidade de reproduzir um fenômeno específico, mantendo as mesmas características ambientais, a análise das repetições de um fenômeno poderiam ser analisadas criando-se uma lei (teoria) para o seu funcionamento.
O Renascimento vai se espalhar por todo o continente cristão, com destaque em Portugal para Luís de Camões e sua obra - os Lusíadas, e no caso dos ingleses para William Shakespeare.

















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