A GUERRA DO PELOPONESO



 Após a derrota persa, Atenas acabou ganhando o posto de cidade mais importante entre os gregos. A hegemonia Ateniense começa em parte pela lentidão e negligência de Esparta. Logo após a retomada da sua cidade, Atenas reconstrói sua muralha rapidamente, e apenas após a reconstrução Esparta é avisada. Os espartanos preocupavam-se com o fortalecimento de Atenas e haviam pedido para que os atenienses mantivessem sua cidade desmurada, assim como era Esparta. Os muros são reconstruídos, mas a democracia ateniense havia decidido que todos os templos queimados e destruídos pelos persas seriam mantidos assim, como uma ferramenta de memória da ameaça persa.

A Liga de Delos fortalecia Atenas e a tornava a maior potência grega. Esparta e as cidades do Peloponeso logo se afastam da Liga, alegando que não era mais necessária a mesma, pois a Pérsia não era mais uma ameaça. Atenas porém, pressionou as demais cidades a permanecerem, alegando que a entrada na liga era voluntária e de livre escolha, mas a escolha era proibida. Em 466 a.C. Atenas destrói aos arredores de Chipre, a última tentativa persa de confronto marítimo com os gregos. Em 465 a.C. um terremoto destrói Esparta, que chega até a pedir a ajuda de Atenas para manterem suas cidades dependentes, depois arrependendo-se e decidindo lutar sozinha. Neste meio tempo Atenas torna-se hegemônica na Grécia e inicia uma campanha de tomada do Egito (domínio persa). A partir daí inicia uma série de conflitos entre Atenas e seus aliados contra Tebas, Esparta e sua liga do Peloponeso. O fracasso na campanha do Egito força os atenienses a assegurarem uma trégua de trinta anos com Esparta no ano de 445 a.C.

O século V a.C. representou uma época de prosperidade para a democracia ateniense. Após a trégua com Esparta, um dos grandes líderes de Atenas, Péricles enviou diversas propostas para a Boulé nas quais foram aprovadas na Eclésia, como a reforma na própria Boulé, que concedia pagamentos aos seus membros durante a época de trabalho, o que possibilitava o cidadão mais pobre a participar ativamente da democracia. Outra proposta de Péricles dizia respeito aos fundos da Liga de Delos, eles seriam transferidos para Atenas e a reconstrução dos templos (na qual o combinado era deixar tudo destruído) seria feita com o dinheiro excedente da Liga, o que possibilitaria a diminuição do desemprego e da miséria que circundava a cidade criando diversos empregos na construção civil. Pronto, é nesta época que vai nascer o templo mais famoso de Atenas, o famoso Partenon. Localizado na Acrópole (a parte mais alta de Atenas) o Partenon foi construído junto a outros templos, como o Erecteiton e a estátua da deusa Atena. Dentro do próprio Partenon reluzia uma linda estátua da deusa da cidade. Também fora nesta época que Atenas criaria um fundo reserva e o deixaria no Partenon, este fundo existiria em caso de um conflito contra um inimigo poderoso, como Esparta. O auge da democracia ateniense nos deixaria diversos personagens famosos, como Aspásia, talvez a mulher mais famosa da história grega, sua beleza, juventude mas principalmente, sua inteligência, hipnotizaram Péricles, e ambos acabaram se casando. Apesar da negligência do grego em permitir a participação da mulher na política, sabe-se que nos bastidores Aspásia era admirada e odiada por muitos, o que sugere seu alto grau de influência na política do mundo grego. Um sobrinho de Aspásia seria adotado por Péricles e participaria ativamente deste período histórico, o seu nome, Alcibíades, cuja beleza e inteligência persuadiriam todos os lados do conflito. As constantes dores de cabeça que Alcibíades dava a Péricles, chamaram a atenção de um filósofo da época, chamado Sócrates. Ele seria o mestre de Alcibíades, ou seja, o que na época chamavam de erastes (amante masculino) enquanto Alcibíades seria o eromenos (homem amado), uma relação comum na Grécia antiga, mas que neste caso, não tinha NENHUMA conotação sexual.


O ano é 431 a.C. Atenas havia intercedido num conflito entre a Córcira e sua metrópole, Corinto. A pressão de Corinto na Liga do Peloponeso, acusando Atenas de ter interferido no tratado de Paz de Trinta anos, coloca Esparta sob pressão, e no outono daquele ano, Esparta lideraria uma grande aliança contra Atenas, que unia as cidades do Peloponeso (daí o nome do conflito), Mégara e Tebas. Percebendo um número de Hoplitas inferior aos dos inimigos, Péricles convoca a Eclésia e convence a todos que o correto seria os Atenienses refugiarem-se nas muralhas e manter uma campanha no mar, vencendo a disputa com pouquíssimas baixas. O problema é que ao aglomerar todos dentro da cidade, uma peste ocorre e 30% da população acaba morrendo, inclusive o próprio Péricles em 429 a.C. Arquídamo II era um dos reis de Esparta, porém um comandante que se destaca neste período é Brásidas, que consegue diversas vitórias contra Atenas, esta, por outro lado, tem através de Cleon uma Eclésia convencida que a Guerra era o caminho da vitória. Em 422 ocorre a Batalha de Anfípolis, nas quais os Espartanos conseguem uma vitória importante, e Cleon acaba morto, apesar da vitória, um ferimento grave acaba matando o comandante espartano, Brásidas. Sem dois líderes belicosos, Nícias convence a Eclésia e Atenas assina outro tratado de paz com Esparta, a Paz de Nícias era um acordo de 50 anos. 


A Democracia ateniense estava em crise, e o herdeiro dos Alcmeônidas, Alcibíades entra em ação com um plano de uma grande vitória militar sobre uma colônia grega na ilha da Sicília, principal fornecedora de alimentos a Esparta. Começava em 415 a.C. a segunda fase da guerra. O tesouro ateniense é raspado, a frota fica pronta, mas Alcibíades é acusado de crimes de abuso sexual e corrupção, o mesmo foge para a cidade inimiga, Esparta. De início a campanha Ateniense mostrava-se um sucesso, mas o fortalecimento dos sicilianos (inspirados pelo comandante espartano Gilipo) e a perda ateniense de diversos trirremes para o mar, enfraqueciam a campanha ateniense. Em 413 a.C. Nícias, comandante da expedição, reúne suas últimas trirremes e enfrenta as trirremes locais, sob gritos angustiantes e motivacionais de ambos os lados, a batalha termina com os atenienses derrotados refugiando-se por terra, onde são perseguidos e mortos, incluindo Nícias. A notícia da derrota devastou os atenienses, que sabiam que sua democracia estava em perigo.

Em 412 a.C. uma ofensiva espartana teria início, mas no ano seguinte, Alcibíades retornaria para Atenas e traria uma série de vitórias navais para a cidade até o ano 406 a.C. quando novamente sua reputação foi posta em xeque, fazendo com que ele fugisse da cidade. Esparta tinha imensas dificuldades econômicas para manter-se na guerra, e toma uma decisão importante, pedir dinheiro para a Pérsia (que é claro, estava interessada no enfraquecimento naval de Atenas). Juntando o dinheiro Persa e o talento do general Lisandro, os espartanos conseguem pressionar os atenienses e no ano de 405 a.C. uma batalha decisiva ocorre próximo ao rio Egospótamos, local importante para o controle do comércio no Helesponto. Atenas não tinha mais sua frota naval e um cerco a cidade imporia sua rendição em 404 a.C. chegava ao fim o conflito.

Não era de interesse espartano a destruição de Atenas, por isso, o que se vê em 404 a.C. é o fim da democracia e a imposição de uma Oligarquia composta de trinta aristocratas. Em 403 a.C. Atenas não tem mais do que 3 mil cidadãos, a cidade estava enfraquecida e devastada pela guerra, porém, a violência dos oligarcas apoiados por Esparta, logo se desfez e uma democracia mais enxuta, retornaria. Esparta também tinha graves problemas, o número de espartanos era muito reduzido, e mais do que Atenas, sua política militar incomodava as demais cidades conquistadas, além do acordo com a Pérsia, que devolvia o controle da Ásia Menor para o grande rei persa Artaxerxes. 

Em 399 a.C. Sócrates é executado com Sicuta, como retaliação por ele ter feito parte do governo oligárquico dos Trinta, mesmo que ele não tenha participado de nenhuma execução ou perseguição contra seus opositores. No ano seguinte, Agesilau tornaria-se rei de Esparta e este rei romperia com os Persas iniciando uma campanha contra o Grande Rei em 396 a.C. Em 386 a.C. a Pérsia assina um tratado de paz com os gregos. Neste meio tempo Atenas consegue reconstruir suas muralhas, e refaz parte de sua frota, auxiliados pelas ilhas que buscavam uma aliança semelhante como a Liga de Delos, porém com participação nas decisões gerais. Atenas estava longe de se tornar um Império como no século anterior, porém conseguia retomar sua autonomia aos poucos. Outra cidade que estava descontente com Esparta, era a pequena cidade de Tebas, localizada na Beócia, ela foi invadida pelos espartanos em 382 a.C. mas o enfraquecimento espartano permite que os tebanos retomem a cidade em 378 a.C. Tebas e Atenas são inimigas seculares, porém o descontentamento com Esparta é tão grande que ambas se aliam diversas vezes contra Esparta. O interminável conflito entre as cidades gregas se estendia sem prazo para terminar, até que em 371 a.C. Epaminondas organiza o exército Tebano, aumentando o alcance das sarissas (lanças) e coesão da formação Hoplita. Em Leuctra Esparta seria derrotada mesmo com um número superior de homens e veria sua condição de imbatível ser arrancada. Epaminondas mostraria ao mundo sua formação de Falange, um método de infantaria que serviria de modelo por muitos anos. Tebas invadiria o Peloponeso entre 370-361 a.C. e libertaria cidades dominadas por Esparta, como a Messênia, que por anos fornecia Hilotas para Esparta. Com isso, a cidade de Esparta praticamente perderia qualquer influência sob o povo grego.

Epaminondas morreria em batalha no ano de 361 a.C. e a cidade de Tebas viveria um momento de grande instabilidade no seu poder. Enquanto isso, um antigo aluno de Tebas, havia voltado para o seu reino, reconstruído seu exército e iniciado uma campanha de conquista da região da Macedônia. Eles se diziam gregos, falavam um dialeto confuso para as cidades de Tebas e Atenas, que os chamavam de Bárbaros. Mas fariam o que Isócrates (filósofo centenário de Atenas) sempre sonhara, unificariam o mundo grego. Estou falando do rei Felipe II da Macedônia, que colocaria todas as cidades gregas sob o seu domínio após a batalha da Queroneia em 338 a.C.


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