ATENAS RUMO À DEMOCRACIA

 Numa região de planície cercada de montanhas, nascia a cidade de Atenas. Os atenienses afirmavam pertencerem ao povo jônio, um povo que sempre viveu ali, mesmo com a invasão dos dórios por volta de 1150 a.C. Não sabemos nada além das lendas de Atenas durante o período micênico. Destas lendas podemos destacar o próprio nome da cidade, que óbvio, era protegida pela deusa Atena, cidade que lhe fora concebida pelos deuses do Olimpo após uma disputa com Poseidon. Um dos primeiros reis da cidade - Erecteu - teria sido filho adotivo da deusa. Teseu, herói lendário, responsável pela morte do Minotauro, seria filho de Erecteu (ou Egeu). 




RUMO À DEMOCRACIA

Era o ano de 640 a.C., Cilón vencia o diaulos (corrida de 400 metros). Ele era um eupátrida numa Atenas governada por estes aristocratas. Seu sogro era um tirano de Mégara. Em 632 Cilón vai tentar tomar o poder, o povo não vai o apoiar e ele vai ter que fugir. Seus apoiadores vão se abrigar no Templo de Atena. Numa manobra equivocada, o arconte eupônimo (governante de Atenas naquele ano) iria enganar os opositores e assassiná-los na parte de fora do templo. Aquele sangue em solo sagrado pegaria muito mal e assim como Cílon, o Arconte Mégacles e todo o seu clã (alcmeônida) seriam exilados de Atenas.
Durante os séculos VII e VI a.C. ocorre em Atenas um fenômeno que ocorreria em quase todas as pólis gregas - o crescimento populacional e a migração de parte das populações para colônias ao redor do Mediterrâneo. Os Eupátridas, tinham as melhores terras, mais dinheiro  e concediam empréstimos aos mais pobres, estes tinham que dar sua liberdade como garantia. Pronto, os mais pobres podiam ser escravizados, presos, vendidos caso não pagassem suas dívidas, muitas nas quais eram abusivas. Em Atenas escravo era uma classe de prisioneiros em guerras e de pobres sem condição de pagamento das suas dívidas. Os comerciantes eram chamados de Demiurgos, os pequenos produtores de Georgóis e os sem-terra de Tethas. Essas classes estavam descontentes com a questão da escravidão e também com a pouca participação na política, aliado a isso eles tinham mais acesso as armas e as cidades vizinhas viviam um sistema de Tirania (quando um Eupátrida usurpava o poder em favor das classes mais baixas). Os Eupátridas de Atenas tinham duas saídas, ou convocariam um Legislador (um governante que alterasse profundamente as leis da cidade) o esperariam um tirano.  As facções políticas de Atenas vão eleger Sólon como arconte epônimo em 594-593 a.C. Sólon foi eleito como um legislador, ou seja, alguém com autonomia para transformar a política e de Atenas em favor do apaziguamento dos conflitos entre as classes sociais da cidade.


Sólon vai aplicar uma extensa reforma, perdoando dívidas e hipotecas que comprometessem as pessoas. Libertaria os escravos por endividamento e acabaria com a escravidão por dívida. Na política ele dividiria a população em classes econômicas, onde até os mais pobres poderiam ter um pequena participação. A eclésia (Assembleia Geral) decidia sobre a guerra e a paz e elegia os membros do magistrado. Na economia ele permitiu que o artesanato expandisse concedendo cidadania aos artesãos. A exportação de produtos agrícolas essenciais foi proibida (diminuindo seu valor interno) e uma moeda própria para Atenas foi criada. Sólon também substitui o código de leis de Drácon e coloca um novo código de leis escritas nas ruas da cidade de Atenas através de duas placas de madeira.
Pisístrato, um ex amante de Sólon, acabaria tomando o poder em Atenas sendo um Tirano. Apesar de sua longa tirania, Pisístrato mantém intocadas as reformas políticas e jurídicas de Sólon. Durante a sua tirania, Pisístrato vai abri Atenas ao estrangeiro, vai criar festivais da Primavera, englobando os Jogos Panatenaicos. No seu governo, as obras de Homero seriam escritas e o Teatro surgiria. Em 528-527 a.C. Pisístrato falece e seus filhos, Hiparco e Hípias assumem o poder. Hiparco seria assassinado por motivos amorosos e Hípias começaria uma longa perseguição aos seus opositores. Atenas não tolerava este tipo de violência, Hípias teria seus filhos sequestrados e seria obrigado a abandonar Atenas.
Ninguém segurava a população de Atenas. Até mesmo o rei de Esparta, Cleomenes, a tentar intervir no conflito atenienses, se viu cercado e expulso de Atenas, um ato que deixaria os espartanos furiosos. O Clã exilado dos alcmeônidas e seu líder, Clístenes assumem o poder de Atenas com um problemão nas mãos. Como governar a cidade?
Para manter seu clã vivo no poder, Clístenes cria um sistema de governo baseado no povo. Os cidadãos teriam participação plena nas decisões da cidade, num modo de governo que ficou conhecido como Democracia (Demo = povo + Cracia = Governo). Tá certo que o "povo" no qual eu falo eram os cidadãos, homens maiores de 18 anos filhos de pais e mães atenienses, as demais classes não teriam participação na política, ou seja, mais da metade da cidade.


Para os cidadãos, o sistema funcionaria da seguinte forma. Atenas foi dividia em dez tribos e 139 demos (a palavra é a mesma, porém essa demos era uma espécie de miniatura de pólis). Os homens eram distinguidos por suas demos, mesmo mudando de moradia. Nessas demos existiam pequenas assembleias e conselhos, da mesma forma que para a cidade de Atenas. Para as decisões da cidade, os encontros eram na Ágora e com o tempo o lugar passou a ser uma encosta chama Pnyx (a capacidade ultrapassava 10 mil pessoas). A Eclésia (Assembleia geral) era soberana e aprovava os assuntos enviados pela Boulé - um comitê administrativo composto por 500 cidadãos escolhidos através de sorteio. A cada 36 dias, 50 cidadãos atuavam na Boulé. Para os assuntos militares, as dez Tribos de Atenas deveriam ter um Estratego (general) além dos Hoplitas (soldados de infantaria) e cavaleiros para serem cedidos em um eventual conflito. 


Outra invenção de Clístenes foi o Ostracismo. A cada ano a Eclésia se reunia para escolher um nome a ser exilado por dez anos da cidade. Essa política evitaria que algum político se destacasse e colocasse a Democracia em risco. Para votar, cada cidadão escreveria um nome num pequeno pedaço de cerâmica (óstraco). O mais votado seria exilado, mas para isso acontecer deveria haver um quórum de no mínimo 6 mil cidadãos. 
A Democracia radical e artificial ao problema político do qual Atenas encontrava-se dava a impressão que logo desanimaria os mais pobres, porém ocorre o contrário. A Democracia trouxe energia aos atenienses, fortaleceu os hoplitas nas guerras e permitiu um enorme crescimento da vida social em Atenas. Anos mais tarde Péricles começaria a pagar os membos da Boulé e com isso a participação dos mais pobres seria efetivada. Quem diria que a democracai duraria mais de duzentos anos...

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