INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA ESPANHOLA

 





No séc. XVIII a metrópole enfrentava algumas dificuldades no projeto de exploração do continente americano. O exclusivismo comercial era afetado, os espanhóis não tinham navios o suficiente para controlar o comércio na região. Em contrapartida, os britânicos apoiavam as manifestações dos criollos no final deste século, como forma de obter vantagens através da abertura dos portos.

Chamar de Revolução ou apenas de Independência é uma problematização existente na historiografia para retratar estes movimentos, existem caminhos que apontam que seria processo de independência pois apenas a elite criolla conduziu e se beneficiou com este processo, ou seja, há uma “troca” dos grupos dominantes. Porém, as ações e o entendimento destas ações coube a todos os envolvidos, desta forma, o termo Revolução poderia ser utilizado. Enfim, esse é um tema ainda bastante debatido, por ora, vamos tratá-lo como um grande processo de “independências”.

No final do séc. XVIII havia grupos descontentes com a centralização do poder local nos “chapetones” espanhóis da América. Ideias iluministas e os processos de Independência dos EUA e da Revolução Francesa, instigavam grupos de intelectuais, membros da Igreja e os grandes proprietários que não faziam parte das instituições espanholas nas colônias ( estes eram chamados de Criollos, descendentes de espanhóis nascidos na América). Será a deposição do rei Fernando VII por Napoleão em 1808 em favor do seu irmão José Bonaparte naquele mesmo ano que irá promover o início do processo de independência no continente.

A América de 1808 estava assim;

Os espanhóis haviam reagido a dominação, formando juntas de governo autônomas, organizando a resistência à Napoleão. Da mesma forma na América, alguns grupos dominantes passaram a criar governos locais, que permaneceriam fiéis à Fernando VII. Apesar desta lealdade, o que nós percebemos neste período é um primeiro rompimento com a metrópole, pois agora, as elites locais passariam a governar para seus próprios interesses. A derrota de Napoleão e a retomada do trono por Fernando VII vai se transformar num grande conflito de interesses entre a metrópole e suas colônias. Enquanto o rei vai buscar centralizar o poder, as elites coloniais vão se opor ao retorno daquela ordem colonial. A partir daí nós vamos observar o surgimento de diversos conflitos nas colônias espanholas, primeiramente com caráter urbano, porém espalhando-se para o interior.

A Emancipação do México

Diferente das outras colônias espanholas, no México, os movimentos de independência surgem em 1810 a partir de camadas populares. Liderados pelos padres Miguel Hidalgo e José Maria Morelos, um exército rebelde composto de indígenas, mestiços e homens pobres é formado, porém ele acaba sendo derrotado por forças da Coroa, com Hidalgo sendo executado. Morelos assumiria a liderança do movimento, porém a coroa seria apoiada pelas elites locais e desta forma o movimento seria derrotado definitivamente. Apenas em 1821, através do Plano Iguala, há um rompimento definitivo do México com a Espanha, através do militar Iturbide, que iniciou uma monarquia com apoio das elites locais. Em 1824 ele seria deposto e o México se tornaria uma república. O México manteve-se submetido a elite criolla, que manteve a população indígena submetida a seus interesses.

As Lutas na América do Sul

Houvera levantes populares na região antes do afastamento de Fernando VII. Durante o século XVIII podemos observar o levante de João Gabriel Condorcanqui Noguera, que se declarou descendente de Tupac Amaru I (último soberano Inca) ou seja, ele seria o Tupac Amaru II, e desta forma se revoltou contra o poder da metrópole, com apoio de alguns criollos e dos indígenas. A violência do movimento “afasta” os criollos e desta forma Tupac Amaru II é derrotado e executado.

Dentro do contexto de retomada do controle espanhol e de descontentamento das elites criollas, duas lideranças militares serão os “libertadores da América” espanhola neste momento – José de San Martín e Simón Bolívar.

San Martín era um criollo e um militar experiente. Ele vai liderar as guerras de independência da Argentina em 1816, do Chile em 1818 e do Peru em 1821. Outro militar famoso será Símon Bolívar, ele vai liderar as guerras de Independência da Colômbia, Venezuela e Equador, na época chamada de Grã-Colômbia. Em 1824 Bolívar vai garantir a independência do Perú e em 1825 vai seguir para a Bolívia tornando-a independente. Após estes feitos, Simón Bolívar vai se tornar presidente das novas repúblicas da Grã-Colômbia e do Peru.

O Mito Bolivariano?

Símon Bolívar sonhava com uma América autônoma e unificada. Em sua carta da Jamaica, ele vai apresentar suas ideias, que resumidamente previa um governo unificado que confederasse os diferentes estados que se formavam. Com isso, se criou um mito no qual Símon Bolívar era o verdadeiro libertador da América frente ao imperialismo que assola o continente, Hugo Chávez, por exemplo, utilizava essa retórica em seus discursos (inclusive a Venezuela se chama República Bolivariana da Venezuela). Alguns historiadores veem com cautela essa posição de libertador, porque a conjuntura política da época sugere que essa ação previa a manutenção dos interesses dos criollos, além de um sonho de ditadura pessoal.

Os Caudilhos

O que se configurou nas antigas colônias espanholas foram a implementação de Repúblicas. Como a elite criolla manteve o controle do poder, manteve-se também uma política econômica de fornecimento de matérias-primas ao mercado internacional. Esta política econômica manteve o modelo colonial e desfavorecendo mudanças sociais profundas.

Esta nova elite criolla alinhou seus interesses ligando-se a Grã-Bretanha e aos EUA. Os projetos de modernização socioeconômicas existentes resumiam-se a decisões que favoreciam esses grupos. No México e no Peru, observamos ações que extinguiam a posse comunitária das terras e a inserção dos indígenas no mercado de trabalho como mão de obra barata e explorada.

No âmbito político, as lideranças militares que participaram das guerras de independência passavam a disputar o poder em seus países, aumentando os conflitos sociais e a instabilidade política. Estes militares geralmente eram marcados pelo carisma e popularidade, porém, ao chegarem no poder, muitos eram autoritários e centralizadores. Foi esse “caudilhismo” que impediu o ideal de América unificada.

É importante lembrar que os governos que sucederam o poder da metrópole mantiveram a matriz econômica agrária-exportadora, mantendo a população em geral fora do espectro político. Apesar da escravidão em alguns países terem terminado cedo – como no Chile que decretou o fim da escravidão em 1823 – outras formas de trabalho forçado persistiram nestes países, sendo refletidos atualmente se observarmos os indicadores sociais dos negros e dos indígenas nestes países.

Não esqueçamos de Cuba!

Cuba era semelhante ao Haiti, se pensarmos em sua organização econômica no tempo de dominação da metrópole espanhola. Prevaleciam as plantations de tabaco e açúcar. Desta forma, o temor de uma revolução dos negros, como acontecera no Haiti, provocou uma demora nos criollos cubanos (os proprietários cubanos que tinham medo da sublevação dos escravos) na luta pela independência. Além do mais, os laços comerciais com a Espanha e com os EUA garantiam grandes lucros para estes proprietários.

As guerras pela Independência de Cuba começam em 1868, porém, após dez anos o movimento é derrotado – em parte por a Espanha investira muitos esforços para manter sua colônia restante. Apenas a partir da década de 1890, através das ideias de José Marti que a sociedade cubana passou a se articular novamente em torno da ideia de independência. O movimento, porém, foi derrotado em 1895, sendo que José Marti foi um dos primeiros a serem mortos no conflito.

Em 1898 os EUA declaram guerra à Espanha, em razão de um navio americano que fora afundado pelos espanhóis. A derrota dos espanhóis forçou um acordo com os americanos, e estes garantiram a “independência” da ilha. Ao elaborar sua constituição, os cubanos tiveram que acrescentar a emenda Platt, onde os cubanos concederiam uma base na baía de Guantánamo, além do direito dos EUA poderem intervir nos assuntos internos de Cuba se os seus interesses fossem ameaçados.

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