A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

 





A Revolução Industrial é um intenso processo de transformação econômica e social, motivado por uma mudança profunda no modo de produção. Ela não tem uma data final definida, afinal, outras mudanças na forma de produção podem ocorrer, tornando essa Revolução um processo contínuo. Por isso, alguns pesquisadores apontam que a Revolução Industrial tem fases distintas, com a primeira delas (presente neste texto) tendo a Inglaterra como pioneira.

Neste primeiro momento, podemos pensar que a mudança de produção artesanal para maquinofaturada (com uso de máquinas) só foi possível graças ao desenvolvimento do motor à vapor. Apesar deste pensamento tecnológico já existir na Grécia Antiga, o uso da força a vapor aparece na Inglaterra nas suas Minas de carvão. Com a destruição das florestas, os ingleses passaram a explorar o carvão mineral, mais abundante e com maior combustão. Porém, para retirar o carvão mineral, alguns lençóis freáticos se rompiam, levando a necessidade de desenvolvimento de ferramentas para bombear esta água. Neste contexto que entra nosso primeiro personagem, Thomas Newcomen e o desenvolvimento de uma máquina à vapor que bombeava esta água.

A invenção de Newcomen não era tão eficiente e segura, por isso, o dono de minas John Roebuck vai investir num estudante da Universidade de Glasgow (Escócia). Lá, ele encontra James Watt, que já tinha desenvolvido alguns instrumentos astronômicos para a Universidade e já tinha entrado em contato com a invenção de Newcomen. Contratado, Watt busca aprimorar esta invenção, porém, é apenas quando ele se junta ao empresário Matthew Boulton, que ele consegue os investimentos necessários para aprimorar o motor à vapor. É a partir daí que Watt vai conseguir desenvolver o motor à vapor, desenvolvendo esta tecnologia a diversas aplicações na fabricação.

A produção dos fios na Inglaterra passava por uma mistura entre algodão e lã, ou era elaborada a partir de uma destas matérias-primas. Para elaborar este fio, os artesãos utilizavam um fuso e uma roca movida a mão ou pedal. Em 1767, o inglês James Hargreaves desenvolve uma roca com oito fusos, multiplicando a produção dos fios. A partir daí as máquinas de Fiar e Tear seriam aperfeiçoadas e adaptadas a força da água e vapor. O desenvolvimento das tecnologias de produção que começaram nas minas de carvão, avançavam para a fabricação de tecidos.




O Pioneirismo Inglês

A Revolução Industrial ocorre primeiramente na Inglaterra, onde a partir de 1780 começamos a perceber um ritmo acelerado de crescimento econômico. Essa primeira fase percorre até meados de 1840, com a consolidação das Locomotivas. Agora vem a pergunta, por que na Inglaterra?

São diversos fatores que permitem o desenvolvimento de uma indústria naquela região. A política voltada para a economia é uma delas. A Inglaterra havia passado por um turbulento séc. XVII, com a Revolução Inglesa que levou a morte do rei Carlos I e com a Revolução Gloriosa que retirara os poderes do rei Jaime II, conduzindo desta forma o holandês Guilherme de Orange, ou Guilherme II. Estes eventos políticos fortaleceram a política econômica da Inglaterra, com o domínio do comércio através das navegações e com estruturas econômicas que valorizavam o lucro privado, como a Bolsa de Valores. Além disso, a Inglaterra promoveu uma mudança na sua produção agrícola, criando estruturas que voltariam esta produção quase que totalmente para o mercado. Ações como a Lei do Cercamento, promoveram o domínio das terras para grandes proprietários, que contratavam camponeses para trabalhar nelas, desta forma, inovações no plantio como a rotação dos campos, levaram ao aumento da produção agrícola, diminuindo a agricultura de subsistência e modelo de terras comunais que vigorava durante a Era Feudal. Estes elementos permitiram que existisse na Inglaterra o acúmulo de capital e disponibilidade de mão-de-obra.

O comércio de tecidos, o elemento propulsor da Revolução, é favorecido por dois elementos. A abundância do algodão presente nas colônias inglesas da América (e depois com a parceria comercial mantida com os EUA). E a disponibilidade da lã de ovelha existente na Inglaterra, graças aos cercamentos. Estes elementos proporcionaram a comerciantes ingleses, buscarem competir no mercado de tecidos, até então dominado pela Índia. Cidades portuárias inglesas como Glasgow, Liverpool e Bristol tiveram um aumento do comércio de tecidos, devido a chegada do algodão das colônias. Estes comerciantes que vão buscar investir no aumento da produção de tecidos, primeiramente criando oficinas rudimentares (muitas vezes em suas casas) e buscando auxílio através dos camponeses que chegavam nas cidades. Com um aumento na exportação de tecidos ingleses aumentando em dez vezes entre os anos de 1750-1768, faz com que seja possível incrementar esta produção através do desenvolvimento de tecnologias para a produção.

As fábricas deste primeiro período da Revolução Industrial eram pequenas, em decorrência dos primeiros investidores, que geralmente praticavam o trabalho de forma doméstica, como os camponeses no período de entressafra e os artesãos que viam na indústria têxtil um mercado promissor. Desta forma, nós temos uma relação mais “bruta” entre esta nova classe burguesa e os proletários. Aliás, o trabalhador urbano é fundamental neste processo. A escassez de terras comunais e a diminuição do campesinato, permitiu que um excedente de mão de obra fosse para as cidades, abastecendo a indústria inglesa. O resultado foi o crescimento demográfico, consequentemente das cidades, mas claro que o preço foi caro. A reeducação do trabalhador para o setor industrial foi marcada por baixos salários e altas cargas horárias de trabalho. Neste contexto nasce o sistema de fábricas, que promove a divisão do trabalho. Ao perder o domínio do processo de produção, o trabalhador estava suscetível a uma maior exploração da sua mão de obra. A partir deste contexto que os primeiros conflitos entre as classes proletária e burguesa vão acontecer.

Um dos grandes pensadores deste período foi Adam Smith, ele defendia a divisão do trabalho e o livre-comércio. Suas ideias foram bem aceitas pelos empresários da época, que adotavam a ideia do Liberalismo. Apesar da divisão do trabalho ter ocorrido, a liberdade alfandegária (livre-comércio) jamais existiu. O desenvolvimento do capitalismo vindo das fábricas, promove o surgimento de duas classes sociais – a Burguesia e o Proletariado. Naquela realidade, a burguesia era a classe que tinha a propriedade das máquinas, das indústrias e o Proletário era o trabalhador, que vivia da venda da sua mão-de-obra.

Após as Guerras Napoleônicas, a indústria do algodão expandiu-se e com o aumento da concorrência percebeu na deflação um inimigo, pois esta obrigava a redução dos lucros. Porém, esta redução dos lucros foi repassada aos trabalhadores, ao passo que se percebe em algumas localidades, a redução de ¼ do salário médio do operário em um intervalo de 20 anos. A desvalorização do proletariado foi acompanhada do aumento do maquinário no processo de fabricação. Quanto maior a mecanização no processo, maior seria a produção, compensando desta forma, a diminuição nas margens de lucro. O limite do salário do trabalhador da indústria era fisiológico, pois ele necessitava de um mínimo para a sua subsistência. Esta necessidade de mão de obra barata fazia com que mulheres e crianças tivessem uma participação na indústria superior aos dos homens no chão de fábrica, onde os homens representavam em média, ¼ das ocupações, enquanto as mulheres e crianças detinham o restante.

O aumento da mecanização na indústria inglesa foi possível também em razão da sua produção do ferro, que mesmo não tendo destaque no mercado europeu, sendo superado pela produção francesa, por exemplo, enxergou na simplificação do processo uma saída para o aumento da produção de máquinas. Outra vantagem inglesa era a extração do carvão mineral, que além de abundante na ilha, detinha um maior poder calorífico em relação ao carvão vegetal, cuja cultura era baixa, devido a devastação das florestas ocorridas nos séculos anteriores. Este combustível para as máquinas a vapor, vai fomentar a grande invenção deste primeiro avanço industrial, a Locomotiva à Vapor. É nas minerações de carvão que as locomotivas vão ganhar espaço, pois elas seriam importantes para o transporte destes combustíveis.

Os maiores detentores do capital inglês não investiram muito na indústria do algodão, aliás, havia um grande ressentimento entre a pequena burguesia fabril em relação a elite econômica, pois as diversas manipulações na economia feitas pelos mais ricos, eram compreendidas por estes industriários, o que elevava o grande ressentimento destes aos ricos da Inglaterra. A partir de 1825 nós percebemos na Inglaterra um aumento das estradas férreas, em grande parte graças aos mais ricos, que perceberam no investimento neste setor, uma possibilidade segura (apesar de não tão lucrativa) de retorno a longo prazo. O fenômeno da locomotiva vai espalhar-se por outras regiões da Europa e pelos EUA, o que é uma surpresa, haja visto que o investimento nesta área não se demonstrava muito lucrativo. Além das vantagens na velocidade do transporte e comunicação, a introdução das estradas férreas vai fomentar a Indústria de bens de Capital, ou seja, a Indústria pesada ganharia espaço junto a Indústria algodoeira.

Apesar o crescimento demográfico e econômico, do maior acesso ao alimento e ao trabalho urbano, a renda do trabalhador comum não aumentou durante o período, em contraste com a renda per capita que teve um avanço jamais visto. Também percebemos que a indústria começava a transformar os cenários urbanos da Inglaterra, não com a força no qual viria a acontecer na segunda metade do séc. XIX, porém já havia diversas cidades com populações superiores a 100 mil habitantes, e Londres chegaria a seu primeiro milhão. Estes trabalhadores urbanos seriam levados à marginalidade destas cidades, cujas moradias precárias seriam pequenas e próximas das fábricas, nascia as regiões suburbanas, relegadas a precariedade do sistema sanitário e habitacional. É neste período que o aumento da poluição das águas e do ar vai transformar as paisagens e trazer diversos problemas de saúde. Mas ainda era um cenário no qual o trabalhador estava começando a vivenciar a exploração do capital, tanto que movimentos como o Ludismo em 1810-11, visavam o maquinário como o grande vilão dos baixos salários e da grande carga horária de trabalho.  








Referências:

HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: 1789-1848. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2010. 535 p.


VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. 2. ed. São Bento: Saraiva, 2018. 248 p.

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