A ÁFRICA PRÉ-COLONIAL: OS REINOS AFRICANOS



 A África é um continente etnicamente e geograficamente muito variado. Para entendermos a formação dos reinos africanos e a composição étnica e cultural dos seus povos, temos que compreender as diferenças geográficas que existem no continente. Por isso, observe atentamente ao mapa abaixo as características físicas do continente. Ao norte nós temos o deserto do Saara, uma área extensa que teve seu processo de desertificação completa por volta de 1000 a.C. Nós já estudamos os povos africanos que dominaram a região durante a antiguidade, como os egípcios, os reinos da Núbia e os cartagineses. Mas com a expansão árabe no século VI, a região passou a ter suas populações islamizadas, daí os termos regionais mudam, Magreb era o ocidente, neste caso a região costeira do Mediterrâneo, o Sael era a região costeira do Saara, até mesmo o oceano Índico foi nomeado por árabes. Já a Bilad Al-Sudan (Sudão = terra dos negros) passou a ser toda a região sul do deserto do Saara na parte ocidental do continente, mas por favor, não confunda com o atual Sudão ou com a composição étnica dos sudaneses. 

África do Norte

As populações do norte da África mantiveram sempre grandes trocas culturais com o Oriente Médio e com a Europa. As populações desta região possuem a pele mais clara que as populações ao sul do Saara. Podemos destacar os Berberes e os Tuaregues. Estes povos dominam até hoje a travessia do deserto do Saara, montando acampamentos nos oásis existentes no deserto. Os berberes criaram uma intensa rota comercial com a região do Sahel ocidental, e após serem islamizados por volta do século VIII, foram os povos responsáveis por levarem o islamismo aos reinos dominantes como o reino de Gana e Mali. Os Tuaregues também viviam nestas rotas, escoltando comerciantes no deserto do Saara. Assim como os povos berberes, estes foram islamizados. Um elemento importante para o surgimento destas rotas comerciais no Saara, foi a domesticação dos Camelos, realizados lá pelos persas quando estes dominaram o Egito por volta do século VI a.C. Tanto os Tuaregues como os Berberes ainda existem na região africana, mantendo alguns costumes existentes nos seus primórdios.

O Reino de Gana

O primeiro grande império africano a se formar no Sahel Ocidental foi o reino de Gana. Lá pelo século IV, povoamentos cansados das constantes invasões e saques de Berberes na região, como os dos soninqueses, começaram a se organizar militarmente para defenderem-se dos povos do deserto. Daí o nome do Reino de Gana, o mesmo dado ao chefe político local que recebia este título "Gana" (Senhor da Guerra). Desta forma nós temos o Reino de Gana, cuja capital era a cidade de Gana e o líder tinha o título de Gana. Só não confundam este reino de Gana com o país atual, cujo território é completamente diferente.
Ao dominar militarmente a região, o Reino de Gana pode cobrar impostos das cidades vizinhas e também das rotas comerciais berberes, tornando-se um rico e poderoso reino da região, sendo conhecido como o reino do ouro, apesar das minas não estarem na região sob o seu domínio. Os conflitos liderados e vencidos por Gana fomentaram  o mercado de escravos, estes eram vendidos aos berberes e enviados aos reinos islâmicos. O Reino de Gana teve seu ápice entre os séculos IX e X, porém no século X os Berberes são islamizados e passam a ser conhecidos como Almorávidas (acampamento de crentes). Eles se expandem por todo o Magreb, incluindo a península ibérica. A partir daí os Almorávidas passam a pressionar o reino de Gana militarmente, inclusive invadindo a capital em 1077. O reino de Gana ainda sobrevive até o século XIII, mas a busca pelo controle do ouro na região faz o reino cair para o reino Sosso, que ficaria poucos anos no controle destas rotas comerciais, pois a ascensão de outro reino tomaria o controle do comércio e do ouro da região.




O Reino de Mali

Ao sul do reino de Gana, um povo de caçadores cuja língua era a Mandinga, passou a ganhar espaço na região, e com a conversão deste povo ao islamismo por volta do século XIII, há a formação de um poderoso reino que controlava o comércio e também as minas auríferas da região, estamos falando do Reino de Mali. Este reino vai controlar diversos reinos vassalos na região, procurando não interferir na crença local (praticando a Jihad) o que trouxe um grande período de tranquilidade e prosperidade ao reino. Seu fundador, chamado Sundiata Keita, foi o responsável por derrotar o reino de Sosso e cooptar os demais reinos da região. Os Malinenses utilizavam os griôs (historiadores orais) para promover e preservar a sua história, de forma oral. O contato com os comerciantes islâmicos, permitiu que alguns eventos do Reino de Mali fossem escritos para a prosperidade. Num deles, por volta do século XIV, demonstra a tentativa do Mansa (o líder do reino) da época, provavelmente chamado Abacar II, de enviar um frota de barcos para a travessia do Atlântico. Os relatos estimam em dois mil barcos e diversos provisões cujo objetivo era a travessia do Oceano - o próprio Mansa Abubacar II partiria junto e nunca mais retornaria. O Sucessor deste, chamado de Mansa Musa, mostrou mais uma vez a grandeza do reino de Mali (considerado o mais rico do mundo naquela época). Mansa Musa peregrinou para Meca atravessando o deserto numa enorme comitiva. O seu carregamento de ouro foi tão grande, assim como seus custos no oriente, que a região Árabe impressionada, teve que enfrentar um surto inflacionário devido a quantidade de ouro que chegara no local. O reino de Mali encontra o seu declínio a partir da queda da quantidade de ouro em suas minas a partir do séc.XVI e da ausência de uma regra que fixava a sucessão, o que permitia a intensificação dos conflitos internos.



Hauçás e Iorubás

No região central do Sudão, diversos reinos independentes desenvolveram-se de forma autônoma ou com certos laços de dependência em relação aos Reinos do Sudão Ocidental (Gana e Mali). Os Hauçás eram povos que viviam entre os rios Níger e Chade, que com o aumento das rotas comerciais passaram a sofrer pilhagens em suas cidades, ao fortificar suas cidades, os hauçás passaram a cooptar populações que viviam pressionadas pela violência, aumentando o número de soldados. Com o passar dos anos as diversas cidades de população hauçá passaram a comercializar seus produtos na região, sendo responsáveis, por exemplo, por 2/3 de toda a vestimenta dos povos da região. Ao serem controlados pelo Império Mali os hauçás acabaram islamizando-se, e com o começo do tráfico de escravos no Atlântico, este povo acabou sendo o grande fornecedor de escravizados no séc. XV.
Mais ao sul, onde hoje é o Benin, Togo e parte da Nigéria, povos cuja língua comum era o Iorubá, formaram diversos estados independentes. A crença Iorubá era de que a entidade de Olodumaré - (Olodum) havia deixado descendentes para reinar sete cidades, nas quais Benin, Ilé Ifé e Oyo eram as principais. Em Ilé Ifé o chefe local era o Oni (sacerdote) pois esta era a cidade na qual se acreditava que havia surgido os fundadores das demais. Em Benin, o rei era o Obá, este mantinha o poder sobre o Estado e a Religião. Com o crescimento de Benin, a submissão do Obá ao Oni de Ilé Ifé desapareceu. Em Benin, por exemplo, o desenvolvimento do bronze, do ferro e do artesanato em Terracota mostra o grande desenvolvimento desta civilização.




O Reino do Congo

Ao sul da floresta equatorial africana, nós podemos perceber o desenvolvimento de povos com origem linguística similar, nomeada pelos europeus de banto. Um destes reinos que irá surgir na região (hoje entre o Congo e Angola) será o reino do Congo - originado no século XIV a partir do povo ambundo de idioma bacongo. O rei era chamado de Manicongo (Senhor do Congo) e a capital era  Mbanza Congo. Havia uma divisão das tarefas entre homens e mulheres, estas dedicadas à agricultura. O Exército do Congo era conhecido por sua capacidade com arco e flecha, e os povos conquistados poderiam ser escravizados, sendo que entre os escravizados não haveria distinção de tarefas. A religião dos ambundos era politeísta e animista, acreditavam na vida após a morte, onde no mundo dos vivos os homens eram negros e ao morrer e atravessar o kalunga (as águas) onde tomariam um corpo de pele clara.



Postar um comentário

E aí? Comente sobre o assunto!

Postagem Anterior Próxima Postagem